Uma amiga mudou para a Argentina quando era criança. Antes de chegar às terras vizinhas, o pai chamou os filhos para avisar que no novo país assoar o nariz em público era normal. Isso poderia ser feito até durante as refeições. O aviso era para que não se surpreendessem com os hábitos locais. Sábio pai! Sorte a nossa seria se nos avisassem de todos os hábitos que vamos encontrar mundo afora. Sorte a nossa se soubéssemos o que é normal para cada um.
Ao contrário da minha amiga, ninguém me avisou que limpar o nariz entupido em público era normal na terra do tango. Depois que saí da sala de aula três vezes para resolver essa questão educadamente, fui surpreendida pela informação. Meu professor disse que, além dos brasileiros, ninguém mais no mundo achava isso um problema. Afinal, era melhor assoar do que ficar fungando por aí. Depois fui estudar na Espanha e, mais uma vez, me surpreendi quando um colega assoou o nariz em sala de aula. Foram uns seis meses até aceitar a normalidade do hábito.
Depois disso, foi a vez de descobrir os hábitos irlandeses. Alguém me contou que por aqui era normal cuspir na rua. A dica veio de um brasileiro impressionado com tal hábito. Eu não levei muito a sério até o dia que vi um irlandês fazendo isso com a maior naturalidade. Infelizmente, não utilizei a informação de que isso é normal e fui logo dar palpite. Perguntei como alguém podia cuspir na rua. O loiro de barba ruiva e olhos azuis me explicou que era melhor do que ficar com aquilo na garganta. Engoli em seco – com perdão do trocadilho.
Ainda no quesito hábitos bucais, contei para uma amiga búlgara que eu escovava os dentes sempre depois de cada refeição e também antes de dormir. O assunto surgiu porque ela queria saber como os brasileiros têm os dentes tão brancos. Logo abri a nécessaire para mostrar o segredo. Ela gostou da ideia. Assim como um amigo espanhol, que me contou que tinha começado a escovar os dentes várias vezes por dia e estava feliz com o novo hábito.
Dizem que os gringos também se horrorizam com a mania dos brasileiros de comer tudo com garfo e faca ou guardanapo. Eu, por outro lado, luto há anos contra a economia de guardanapos nos fast foods pelo mundo. Preciso de pelo menos dois: um para o sanduíche e outro para limpar as mãos. Muitos não economizam no ketchup, mas amarram os guardanapos. E eu fico sonhando com aqueles porta guardanapos de pastelaria que ficam na mesa, sem economia.
Enquanto eu sonho com guardanapos de sobra e me surpreendo com discretos cuspes nas ruas, admito que aprendi a assoar o nariz em público. Alérgica que sou, o hábito me fez bem, mas ainda faço isso bem discretamente perto dos companheiros gringos mundo afora. Conto bem baixinho e espero que não espalhem por aí. Afinal, tenho uma reputação e não faço isso em rodinhas com audiência majoritariamente brasileira. Pelo menos nesse caso, sei para quem isso é normal.
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