Protestos anti-imigração estão acontecendo na Irlanda desde o fim do ano passado. Em janeiro, porém, cresceu o número de manifestações, principalmente em Dublin. Apenas nesta semana, pelo menos três eventos reuniu dezenas de pessoas em bairros como Finglas e Mullingar.
Apesar de grande parte dos protestos serem pacíficos, parte dos manifestantes tem se mostrado cada vez mais radical. Disparos de notícias falsas sobre imigrantes e tumulto durante os atos estão ficando mais comuns, além de intimidações em acampamentos de refugiados.
O edublin reuniu informações a partir de reportagens da imprensa irlandesa que está cobrindo diariamente o tema para explicar a situação dos protestos anti-imigração no país.
A alta na inflação, com aumento exponencial no custo de vida na Irlanda, e a crise imobiliária “sem precedentes” que atinge o país são o mote para que os manifestantes saiam às ruas contra a decisão do governo iralndês em receber refugiados.
Conforme escreveu a jornalista Justine McCarthy ao jornal The Irish Times, moradores de áreas principalmente não privilegiadas “estão furiosos com o fato de o governo estar tentando cuidar das pessoas que fogem de suas terras nativas, enquanto muitos dos nascidos aqui lutam para pagar suas contas e garantir casas”.
Ela destaca, porém, o uso dos protestos para atiçar um “ressentimento com mentiras e insinuações” para uma “agenda preconceituosa”. Ela ainda relembra o histórico irlandês de emigração no passado para condenar a xenofobia de parte do grupo manifestante.
Outra preocupação que os manifestantes têm colocado durante os atos é a entrada de imigrantes não documentados no país. De acordo com reportagem do jornal Newstalk, “mais de 5.000 dos requerentes de asilo que chegaram à Irlanda no ano passado tinham documentos de viagem falsos ou nenhum”.
Segundo a matéria, informações do Departamento de Justiça mostram que, entre janeiro e novembro de 2022, 5.074 pessoas solicitaram asilo na Irlanda apresentando falso documento ou nenhum. Isso é cerca de 40% das aplicações de proteção internacional do ano passado, sendo 70% (cerca de 3.500), homens.
A reportagem diz que 41% dos refugiados em todo o mundo não têm acesso a passaportes e que a entrada de refugiados sem documentação tem um coeficiente parecido com o da Irlanda em países como Alemanha, Holanda e no Reino Unido.
Os manifestantes, no entanto, consideram o sistema de imigração irlandesa como ineficaz ao permitir a entrada de refugiados não documentados.
Vários incidentes foram registrados nos últimos dias com depredações, ataques e intimidações a refugiados. A polícia investiga danos a um albergue onde imigrantes estão refugiados no centro de Dublin. Janelas do albergue foram danificadas por um homem encapuzado com um martelo.
Reportagens também mostraram que a Garda investiga um incêndio criminoso em uma antiga escola do século 19, em Dublin, que havia sido erroneamente identificada nas mídias sociais como um local sendo preparado para abrigar pessoas do exterior que buscavam refúgio.
Um grupo de homens irlandeses, acompanhado de cães e tacos de beisebol, ameaçou refugiados que estavam em um acampamento em outra parte de Dublin no último fim de semana, gritando para que fossem embora.
Um ativista de extrema-direita, considerado líder de protestos realizados em Dublin, foi preso na manhã de quarta-feira por oficiais da Garda.
Vídeos divulgados online mostram o extremista junto a um grupo de homens bloqueando estradas e incitando pessoas a levarem armas para os protestos.
O homem está sendo interrogado sob a Seção 30 da Lei de Crimes Contra o Estado pela unidade antiterrorista da polícia irlandesa.
Enquanto os protestos ocorrem nas ruas, pela internet, integrantes de grupos extremistas têm disparado notícias falsas como forma de atiçar cidadãos irlandeses a inflar as manifestações.
De acordo com informações da mídia irlandesa, manifestantes acusam imigrantes de terem atacado mulheres, informação nunca confirmada.
De acordo com o jornal Irish Examiner, durante os atos, manifestantes alegam que “refugiados do sexo masculino” estão envolvidos em um ataque sexual ocorrido contra uma mulher no norte de Dublin.
A reportagem mostra que manifestantes têm alegado constantemente que os homens refugiados são “estupradores” e que representam um “perigo extremo para as mulheres e crianças”.
Fontes confirmaram ao Irish Examiner que a Garda está seguindo uma “linha de investigação definida” em relação ao suposto crime sexual e que o principal suspeito é um homem “irlandês branco de fora de Dublin”. O envolvimento de migrantes ou refugiados foi descartado.
De acordo com pesquisa feita pelo Overseas Development Institute, movimentos extremistas podem surgir (ou ressurgir) na Europa a partir dessas crises.
Segundo o estudo, é preciso encontrar respostas práticas para os principais desafios do país e os imigrantes devem deixar de ser bodes expiatórios para as atuais deficiências políticas.
O “Taoiseach” (primeiro-ministro irlandês), Leo Varadkar, afirmou que está “muito preocupado com a ascensão da extrema direita e do racismo” na Irlanda e que as recentes cenas violentas não são “o jeito irlandês” de lidar com situações adversas.
“Refugiados são bem-vindos aqui. É importante que tenhamos sistemas robustos para garantir que acolhemos aqueles que estão genuinamente fugindo da guerra e da opressão e devolvemos aqueles que não estão. Quero que as pessoas tenham certeza de que é isso que faremos. Mas as cenas que vimos nos últimos dias e nas últimas semanas realmente não são aceitáveis”, disse Varadkar.
Varadkar afirmou que os irlandeses entendem a migração, pois todas as famílias do país foram moldadas por ela. “Fomos recebidos em todo o mundo e, em algumas partes do mundo, fomos maltratados. Como país, devemos saber melhor.”
O governo irlandês também já afirmou ter fechado a entrada de novos refugiados homens solteiros, dando prioridade a famílias com mulheres e crianças.
O passado na Irlanda é marcado pela emigração, a chamada Diáspora Irlandesa, ocorrida, principalmente, no século 19.
Na época em que ocorreu a Grande Fome (Great Famine) houve um número muito grande de irlandeses emigrando para outros países. Existe até um museu que conta a história da emigração irlandesa pelo mundo, o EPIC Museum.
Recentemente, o país voltou a ter 5 milhões de habitantes pela primeira vez desde 1851, o que mostra a grande quantidade de irlandeses que precisaram sair do país naquela época como refugiados para sobreviver, partindo principalmente para os Estados Unidos.
Não à toa, a máxima de que existem mais irlandeses fora da Irlanda do que no próprio país é real, sendo 34 milhões de americanos que se identificam como irlandeses em algum grau.
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