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O sonho, o começo e a mudança

Já achei que mudar de país começava na hora em que colocamos as roupas na mala. Talvez tenha acreditado que começava na hora em que entramos no avião ou passamos pela imigração. Outras vezes, achei que era quando tomamos uma decisão. Finalmente, percebi que qualquer mudança começa no sonho. Não sei se é chamado ou se é ilusão. Um dia a gente acorda com essa ideia na cabeça. Pode ser porque vimos a foto de um amigo, cansamos da vida atual ou sem motivo. Comigo, foi assim, por alguma razão, sem razão, percebi que queria mudar de país.

Crédito: Shutterstock

O sonho veio antes da decisão. Avisei para todo mundo que um dia eu ia mudar para a Espanha. Cada vez que eu viajava, minha avó perguntava se eu já estava mudando. Ela, sábia que é, sempre acreditou em sonhos. E também nas realidades que nascem deles. Eu, apesar de viajar sempre com malas enormes, logo voltava. Não que voltasse igual. As malas vinham com mais roupas e a cabeça com mais sonhos.

Uma vez li que a melhor maneira de juntar dinheiro era ter um objetivo concreto. Pensei que meu objetivo poderia ser mudar de país – pelo menos com uma ideia na cabeça seria mais fácil manter o dinheiro no bolso. O sonho foi virando decisão à medida que a poupança engordava.

Antes da decisão vieram muitas perguntas. Querer mudar de país não me parecia motivo suficiente para fazer isso. Hoje já vejo que é. Já acredito que o desejo e o sonho são as melhores justificativas para as nossas decisões. O amor também. Diria até que justificam mais que qualquer coisa. Afinal, é preciso muita coragem para dizer que foi porque desejou, porque era o sonho ou porque amava.

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Mas ainda não sabia disso ou não tinha coragem para tanto. Não via sentido em sair por aí tentando a vida. E ainda não vejo. Vida a gente não tenta, só vive. E no meio da vivência, sim, tenta, erra e tenta de novo. Para o meu sonho busquei uma justificativa plausível e socialmente aceitável. Não sei se quis justificar para mim ou se foi só um caminho para realizar o sonho. Provavelmente os dois.

Aí, o sonho virou decisão. O destino ajudou. Afinal, sou dessas que acham que não vamos nem a esquina por acaso. O vento soprou a favor. Fui aceita em um mestrado na Espanha. Fiz as malas e fui. Não sem antes chorar, espernear e surtar. Sonhar é bom. Mas, realizar sonhos nem é sempre fácil. Entrei no avião e passei pela imigração. A mudança, porém, já tinha começado muito antes, no dia que acordei com essa vontade louca de sair por aí.

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Lívia Alen

Mineira de Belo Horizonte, morou no Canadá, na Argentina, na Espanha e em Portugal, antes de desembarcar na Irlanda. É jornalista e mestre em Comunicação das Organizações. Diz que os 25 anos são os novos 15 e que é tempo de experimentar. Olha mais para o céu que para o chão. Ama chocolate, gente e viagem, de preferência, tudo junto. Acredita que o mundo inteiro é um lugar para chamar de casa.

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