Por Felipe Franco
Foram praticamente dois anos vivendo em solo irlandês. Vinte e três meses divididos entre novidades e repetições. Dias excitantes e dias frustantes como de fato a vida deve ser. Córregos vazios de certezas desaguando em um oceano cheio de dúvidas. Um redemoinho de tentativas em busca de algo que ainda nem veio. Algo que seguramente requer uma minuciosa investigação interna para que então revele seu verdadeiro sentido. Já era tempo, a indagação feita desde sempre pela filosofia acaba de conquistar mais um aluno. “Conheça-te a ti mesmo.”
A incerteza que paira sobre mim precisou de um ingrediente especial para tornar-se realidade. Foi necessário deixar o casulo. Abandonar a famosa zona de conforto. Encarar o desconhecido. Cheguei à Irlanda sem saber se procurava alguma coisa. A vontade de estar longe da vida repetida do Brasil era mais forte que a de estar no Velho Mundo. O sentimento era de que qualquer lugar poderia servir. Então, como a maioria, consegui um trabalho e fui ficando. Esfreguei privada, lavei louça, carreguei peso, aguentei chefe mala e consequentemente me fortaleci. Conforme o tempo ia passando, um universo de possibilidades ia surgindo. Comprei algumas tralhas. Torrei dinheiro na noite. Fiz algumas viagens. Pulei de um hostel para outro e perambulei por pontos turísticos. Tudo passageiro, literalmente.
Vinte e três meses depois me encontro na idêntica situação deixada para trás no Brasil. Uma vida acomodada, de repetição diária e sem desafios. O mesmo trabalho, as mesmas pessoas, os mesmos diálogos. As cervejas já não tem o mesmo gosto. As ruas já não tem o mesmo brilho. O clima já não possui o mesmo charme. O dinheiro não exerce a mesma força e a falta do novo aumenta minha insatisfação. Não pense que isto me torna mais fraco e desmotivado. Pelo contrário, a possibilidade da mudança me enche de energia. Encarar coisas novas me eleva ao mesmo nível de excitação daquele janeiro, quando aguardava o voo para Dublin com a alma cheia de expectativas.
Mas entre o oceano de dúvidas que levo na mala, uma certeza foi facilmente encontrada. Nem transporte público de qualidade, nem salário satisfatório, nem segurança de andar pelas ruas são o bastante para fazer com que eu prefira ter uma vida longe das pessoas que amo. A presença da minha família jamais poderá ser substituída por facilidades materiais. Melhor estar acompanhado na guerra do que só no paraíso.
Portanto, aqui estou. De mochila pronta para pegar a estrada, (Itália, Grécia, Turquia, Israel, Palestina, Jordãnia…), na incansável busca por ensinamentos. Lições que façam a vida valer a pena. Que me deem maturidade para valorizar os pequenos detalhes. Que me mostrem que qualidade de vida depende de só de mim e não de objetos compráveis. Que fortaleçam ainda mais o amor que tenho pelos que me amam. E, assim sendo, que um dia eu olhe para trás e me orgulhe do papel que a Irlanda teve na minha caminhada pelo autoconhecimento.
Sobre o autor:
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