A gente sempre comenta dos perrengues que todo intercambista não europeu enfrenta ao desembarcar na Irlanda. Mas o papo, hoje, é com duas intercambista europeias. Será que a vida de estudante para um cidadão europeu é mesmo cheia de privilégios como muitos pensam, sem obstáculos?
Por Fabiano de Araújo
Para esclarecer essa dúvida, convidei a Adriana Sanjuan Andrés, de 24 anos, natural de Yecla, na Espanha, e a Frédérique Wyts – ou apenas Fréd -, também de 24 anos, de Paris, na França. Elas nos contaram como tem sido a vida na Ilha Esmeralda como estudantes de inglês.
Eu não podia começar o meu bate papo sem antes saber quais eram os motivos que as trouxeram para cá.
Para Adriana, os motivos foram profissionais. “Trabalho como tradutora de Espanhol x Inglês e precisava passar um tempo vivenciando a língua para aprimorar os meus conhecimentos linguísticos. Com a saída do Reino Unido da comunidade da União Europeia, o único país pelo qual eu poderia viver sem ter maiores problemas burocráticos e que o idioma oficial era o inglês, é a Irlanda”.
Já para Fréd, o principal motivo foi a curiosidade sobre a cultura irlandesa. “O meu objetivo era compreender o sotaque irlandês, bem como melhorar as minhas competências linguísticas. Eu também escolhi porque é perto de França, a moeda é a mesma e as passagens aéreas são muito mais em conta”.
Uma das grandes dores de cabeça entre os intercambistas brasileiros é a procura por acomodações. Será que com os europeus é igual?
Adriana, assim como os estudantes brasileiros, também passou apuros na busca por acomodação. Arquivo Pessoal
Adriana comentou não ter sido uma tarefa fácil. Ela havia vindo com uma amiga, que logo conseguiu um emprego como aupair. Por sorte, a dona da casa concordou que ela ficasse junto com a amiga até que encontrasse uma acomodação. Após um mês de procura, a frustração foi grande e ela já cogitava uma proposta de mudança da Irlanda. Seus maiores obstáculos foram os preços altos e más opções para um estudante – sem contar a dezena de entrevistas sem respostas. Quando já estava para desistir, eis que surgiu a tão esperada vaga – hoje ela divide quarto com uma brasileira.
Já a Fréd passou por duas acomodações. A primeira encontrou com facilidade e dividia a casa com mais sete pessoas. Três meses depois, o landlord pediu o imóvel de volta e todos tiveram que deixar a acomodação. Foi aí que ela teve um pouco de dor de cabeça. O cenário não foi muito diferente do comentado acima pela Adriana: casas com preços acima da média e muitos lugares na região central sem condições de abrigar dignamente uma pessoa.
Muitos comentam que europeus tem maiores chances de encontrar um trabalho. Será que esse foi o caso da meninas?
A Adriana está tentando exercer sua profissão de tradutora e intérprete de Espanhol x Inglês aqui na Irlanda. “Para falar a verdade, não foi difícil me colocar no mercado, até porque existem poucos profissionais intérpretes em Dublin. Porém, o problema é que a procura por esses profissionais também é baixa, então quase não tenho trabalho.” A solução da Adriana para conseguir manter as contas em dias foi correr atrás de trabalhos em outras áreas, mas como não possui experiência em outros setores, tem enfrentado dificuldades para encontrá-los.
Com a Fréd não foi diferente. Foram 3 meses de procura até conseguir uma vaga de housekeeper em um hotel no centro da cidade. Mesmo tendo experiência com hotéis na França, no inicio não foi fácil. “Não era uma área na qual eu pensava em atuar na Irlanda, mas o contato constante com a língua nativa se tornou a minha grande motivação. Acabei abraçando o desafio da mesma forma que tive que enfrentar as dificuldades para encontrar a acomodação”.
Bom, essa, sem sombra de dúvidas, é a maior vantagem de ser um estudante europeu na Irlanda. Sabe aqueles requisitos? Passagem de ida e volta, 3 mil de comprovação financeira, carta de escola e aí por adiante? Nadinha disso. Tanto a Adriana quanto a Fréd apenas se preocuparam em abrir uma conta bancária e providenciar o PPS quando foram contratadas.
Mesmo morando na Europa será que o clima irlandês interferiu na adaptação?
Adriana: “O frio aqui é muito mais intenso que na Espanha, mas não foi tão difícil me adaptar. Porém, o fato de anoitecer mais cedo no inverno e às 17h já estar tudo escuro lá fora, dá a impressão de que os dias são muito mais curtos.”
Fréd: “Chove muito, mas o pior é o vento. Eu chego a colocar três camadas de roupas. Por outro lado, em dias ensolarados Dublin é incrível, especialmente no verão. Os dias são mais longos e é delicioso desfrutar os parques e pubs com mais tempo.”
Quando eu cheguei em Dublin, tinha a impressão de que escutava muita gente falando português nas ruas. Será que acontece o mesmo com outras nacionalidades?
Adriana: “Sempre encontro muitos espanhóis pela cidade e não é nada difícil escutar o espanhol pelo centro de Dublin”.
Fréd: “Não é tão comum, mas sempre escuto alguém falando francês aqui ou ali quando circulo pela cidade”.
Como podemos ver, apesar de algumas facilidades, nada vem de mão beijada. A vida dos estudantes europeus na Irlanda, assim como nós, também tem seus desafios e pode não ser tão privilegiada assim.
No final das contas, seja você europeu ou não, a experiência longe de seu país certamente vai te impor alguns desafios, mas tenha plena certeza de que tudo é um grande aprendizado.
Sobre o autor:
Revisado por Tarcisio Junior
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