Contando os dias para o embarque, muitas vezes me vejo presa aos velhos conceitos e certezas, o que me leva a um sentimento de tensão enorme. Por mais que eu tenha buscado a mudança, o intercâmbio é algo diferente. Estarei em outro ambiente, não posso voltar para casa na mesma hora se não der certo e ainda não vou desenvolver as mesmas atividades e nem sequer ter a rotina semelhante a habitual.
Ao longo dos meus 35 anos de vida, passei por muitas mudanças, como todo mundo, mas sempre tive uma estratégia de emergência, caso necessitasse de um socorro imediato. As inserções em novos ambientes de trabalho, estudo, núcleo familiar e relacionamentos pessoais, por mais que perecessem novos, tinham uma avaliação de risco calculado. É como se pudesse voar com uma tornozeleira. Com o intercâmbio próximo, o cenário mudou e as incertezas tomam conta. Posso dizer que me sinto totalmente livre- e isto assusta. Para sofrer menos e agir mais, tomei algumas medidas que espero também serem úteis para outros futuros intercambistas que passam por isso.
Quando pedi as contas do trabalho, reconheço que me arrependi por algumas horas. Após assinar o desligamento, só passava na minha cabeça o seguinte: “Quando eu voltar estarei desempregada!”. Em seguida, como uma provação de Deus, ouvi vários colegas dizendo que estavam procurando trabalho ou foram demitidos. Meu coração chegou a estremecer e, inconscientemente, comecei a pesquisar oportunidades de emprego. A tensão era grande, até que um dia fui tomar uma cerveja com uma amiga e contei o que estava sentindo. Ela começou a rir. Disse que não sabia nem o que faria amanhã, quanto mais daqui oito meses. Neste momento, percebi que estava sendo ridícula e dramática. Então, decidi ficar distante dos assuntos ligados à empregabilidade na minha área de trabalho.
Curtir minha casa, meu cachorro, meus livros e meus discos. Isto me ajudou muito a desapegar. É como se fosse a despedida e um momento dedicado à reflexão. Aproveito para escrever algumas linhas sobre o que estou pensando de positivo sobre meu intercâmbio e colocar em um pote, materializando a energia boa. Também descobri a importância dos textos motivacionais. Li muito sobre mudança, medo e insegurança, pois a melhor forma de matar a fera é admitindo que ela está na sua frente e estudando a maneira dela agir.
Sinceramente, a esta altura do campeonato, quem tiver suas opiniões negativas ou críticas destrutivas, que guarde para si. Antes, eu ainda ficava ouvindo e fazendo cara de paisagem. Agora, falo que vou ao banheiro e não volto mais. Uma coisa eu aprendi é que quem acha muito defeito, quer fazer também, mas não tem coragem.
Para ocupar o tempo e fortalecer o meu objetivo, comecei a estudar uma série de materiais extras, indicados por colegas e professores. Coisas leves e relacionadas com o cotidiano da Irlanda, além de livros, revistas e séries para melhorar o meu inglês. Antes, eu estava focada no trabalho e em outras coisas, e o tempo era muito curto para me divertir com essas leituras. Agora, como não tenho mais horários estabelecidos, não há pressa e toda hora é hora.
Depois que descobri os valores da cerveja e do cigarro na Irlanda, reduzi drasticamente. Não dá para viver com grana de estudante e tomar cerveja o tempo inteiro. Com a redução do vício, passei a dormir mais cedo e melhor. Como consequência, também acordo mais cedo e dá tempo para me acabar no parque fazendo uma caminhada e liberar toda tensão. Também estou comendo melhor e preparando a parte física para a mudança. Às vezes, arrisco até fazer um prato típico irlandês para entrar no clima.
Espero que este artigo ajude os companheiros intercambistas com mais de 30 e que passam pela mesma situação.
E, assim, aguardo meu embarque, como diz o jornalista Chico Pinheiro: “Suave na nave”
Revisado por Tarcísio Junior
Imagens via Shutterstock
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