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Quando deixei o Brasil foi que conheci o Brasil

Parei para relembrar meus passos na terrinha e me questionei por onde andei. Refleti sobre o mundo que eu conhecia e vi que não conhecia nada, que muitos dos lugares aonde ia, das músicas que escutava e do que meus olhos viam, no geral, eram limitados e pré-selecionados.

Descobri o Nordeste brasileiro em Dublin. © Marcio Silva | Dreamstime

Ok, quem é de São Paulo sabe que aquele é um mundo de possibilidades e incansáveis opções de lugares para ir, e nem sempre o tempo e as distâncias nos permitem conhecer tudo, assim como valores de passagem para a raiz de uma porção das descobertas não são no preço de uma Ryanair.

Eis que, já que eu não fui até o Nordeste no Brasil, ele veio até Dublin. Há pouco mais de um ano, em uma quinta-feira, apareci no Mercantile por meio do convite de uma amiga para conhecer um pouco do que o Nordeste tem. Quando cheguei, já tinha gente arrastando o pé há anos.

Mal pisei lá, e a mão de um cavalheiro veio me chamando pra uma valsa (ou uma quase salsa), e eu só fui. Eu forrozeei como nunca antes na minha vida brasileira. Saí de lá com músculos despertos, a blusa molhada e um sorriso no rosto como que dizendo: “que delícia de terra essa a nossa”. Terra de gente boa, de gente do bem, de gente que nasceu com riqueza nos pés e estava ali, fazendo o chão lamber essa cultura e contagiar o restante do mundo.

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Sim, o mundo está querendo forrobodó, com o poder da essência da palavra. Afinal, o pessoal ali só quer dançar e tomar água se der tempo de parar a roda entre uma dança e outra.

Vi gente de fora dançando um xote agarradinho, colando a testa suada em outra, aliviando a correria que os pés tiveram no dia na pista, levando o par na dança e deixando-se levar, confiando no contato físico e nos seus próprios passos de olhos fechados.

De repente, eu me vi aprendendo a ser levada pela zabumba na gringa, dançando com irlandeses que foram contaminados ainda antes de mim mesma pelo ritmo brasileiro no corpo e alma, vendo-os cantar a poesia que o forró emite pelo metal do triângulo.

Vi os passos dessa dança serem levadas a outros ambientes mundiais e tomando cada vez mais espaço, trazendo cada vez mais pessoas para a roda, que já nem sei mais: não sei dizer de onde o forró vem, se foi o irlandês que chamou primeiro ou se fomos nós, brasileiros. Só sei que já está tudo junto e misturado. E talvez Gilberto Gil estivesse certo em dizer que a expressão “for all” é de onde o forró é derivado.

Para informações sobre os eventos de forró, acesse a página do Forró Dublin e entre na roda!

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