Quando nem tudo é perfeito no intercâmbio: alimentação

Estudante descobriu intolerância antes de chegar ao intercâmbio. Foto: Arquivo pessoal

Sou de Araranguá, um cantinho frio no Sul do Brasil, e enquanto estava no Brasil atuava como Orientadora Pedagógica. Passei quase três meses na Ilha Esmeralda para aprimorar o meu Inglês e conhecer outras culturas. Tudo perfeito, até eu me dar conta de que nem sempre as coisas nos países desenvolvidos são realmente melhores que em nosso país.

Tudo começou há pouco mais de três anos, quando descobri a Intolerância à Lactose, ou seja, meu corpo parou de reconhecer ‘o açúcar natural’ do leite, fazendo que este passasse a me fazer mal sempre que fosse ingerido. Em consequência disso troquei minha alimentação, eliminei o leite e passei a controlar a presença dele em todos os alimentos que consumia.

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Mas o que isso tem a ver com o meu intercâmbio na Irlanda?

No Brasil, quando eu descobri a intolerância eu encontrei primeiramente apenas uma marca de leite que não continha lactose. Com o tempo outras marcas e outros produtos foram surgindo, como o iogurte, chocolate, queijo, creme de leite, leite condensado. Hoje em dia é fácil desenvolver qualquer receita, apenas substituindo o leite comum pelo leite sem lactose. Quando surgiu a oportunidade de estudar na Irlanda – leia-se Europa -eu não me preocupei em pesquisar sobre a alimentação sem lactose, pois imaginei que chegaria lá e encontraria até Nutella sem lactose, afinal de contas eu estava na Europa.

Foi aí que eu boicotei o meu próprio intercâmbio, já que eu descobri que isso não passava de uma ilusão na primeira ida ao supermercado. Enquanto no Brasil eu já contava com uma variedade de marcas de leite sem lactose, na Irlanda a única que encontrei era caríssima! Nem preciso falar que encontrar iogurte não passou de um sonho! A sonhada Nutella, então, prefiro não comentar!

Procurei em mercados diferentes, do polonês ao asiático e tantos outros, mas não encontrei. No início a única solução foi pagar pelo leite caríssimo. Até que o bolso começou a apertar e eu acabei recorrendo ao leite de soja que, ao contrário dos encontrados no Brasil, não são tão doces quanto eu esperava.

Difícil adaptação ao desembarcar na Irlanda. Foto: Arquivo Pessoal

Outro ponto difícil no meu processo de adaptação alimentar, foi que na Irlanda a maioria das receitas levam manteiga ou leite – e em muitos casos ambos. Isso dificultou a minha oportunidade de provar novos sabores, comidas e pratos tradicionais. Confesso ter encarado isso numa boa, pois conheço bem as consequências desagradáveis da ingestão de leite: dores, cólicas, náuseas e diarreia. É claro que lá no fundo fiquei meio chateada, mas estamos falando aqui em uma questão de saúde.

Um dos grandes resultados disso tudo foi que em aproximadamente três meses eu emagreci seis quilos, minhas roupas já não serviam mais e eu comecei a me preocupar, e muito, com a minha saúde, o que me fez regressar mais cedo para o Brasil.

Com a minha experiência eu aprendi duas coisas importantes: a primeira é que além de pesquisar muito sobre a cultura do país, possibilidades de empregos e tantas outras coisas pertinentes ao intercâmbio, a gente precisa lembrar das nossas necessidades, principalmente no que tange a preciosa saúde. A segunda, é que uma vez no país escolhido, procurar pessoas com as mesmas limitações que você pode ajudar em encontrar alternativas alimentares.

Sei que em alguns pubs e aplicativos tem um pessoal que se encontra para praticar Inglês por afinidades, como, por exemplo, torcedores de times de futebol, leitores… e com certeza se eu tivesse procurado também teria encontrado pessoas com o mesmo problema que o meu.

No final, até que me virei bem. O fato de estar em outro país bem diferente do nosso não significa que não se possa ter uma alimentação saudável e que atenda às suas necessidades.

A dica que deixo é: não acredite que fora do nosso país as coisas serão mais fáceis. Tente procurar soluções antes de embarcar. Às vezes uma pesquisa mais aguçada antes da viagem pode ajudar muito no seu intercâmbio, fazendo com que ele ocorra da forma mais tranquila possível e sem danos a sua saúde – seja um problema de intolerância ou qualquer outro.

Para quem sofre de intolerância a lactose e outros produtos, vale assistir ao vídeo abaixo, assim como visitar os sites irlandeses de suporte a pessoas com quadros de intolerância, como o HSE e a Irish Health. Esse post também traz 25 aplicativos voltados para o tema.

Ficou com vontade de fazer intercâmbio? Comece por aqui!

Sobre a autora:

Karla Pereira é natural de Santa Catarina, pesquisou e leu quase tudo antes de decidir ir se aventurar como intercambista na Irlanda, mas esqueceu de um item importante: a sua própria saúde, já que sofre de intolerância a lactose. Assim como muita gente, a Karla imaginou que na Irlanda, ou melhor, no Velho Mundo, não teria que se preocupar com esse “pormenor”, já que estamos falando da Europa. Mas a realidade foi outra!

A série Meu Intercâmbio conta com a colaboração do repórter Fabiano de Araújo e tem o objetivo de dar oportunidade a estudantes que estão vivendo a experiência de intercâmbio na Irlanda, de contar suas histórias, alegrias e perrengues como intercambistas. Se você também quer compartilhar como tem sido a sua nova vida desse lado do globo, basta entrar em contato com: jornalismo@edublin.com.br

Revisado por Tarcísio Junior
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