O que seria o intercâmbio senão um aprendizado constante? Sol Resende, uma jovem de 35 anos, natural de São José dos Campos, SP, e pós-graduada em gestão de projetos, percebeu que o seu currículo e experiência teriam que esperar um pouco até que a fluência no inglês fosse uma realidade. Enquanto isso, foi saboreando outros aprendizados que o intercâmbio nos permite – e foram muitos.
Por Sol Resende
Colaboração: Fabiano de Araújo
Em um período de transição de carreira e desesperançosa com o Brasil, resolvi que iria estudar fora. E assim, cheguei a Irlanda.
Na lista de opções de países de língua inglesa que me permitiriam estudar e trabalhar, estavam Austrália, Nova Zelândia e, por fim, a Ilha Esmeralda. Depois de pesar os prós e contras de cada um deles e considerar, também, que eu não conhecia a Europa ainda, fiquei com a Irlanda.
Cheguei em setembro de 2014, com inglês básico. Após um semestre de aulas na Ilha, o meu progresso na língua estava muito aquém do que eu imaginava. O emprego, então, parecia algo impossível e a verdade é que um sentimento de incapacidade foi crescendo dentro de mim.
Para suprir a agonia, me lancei nas viagens: Itália, França, Inglaterra, Escócia, Marrocos e também nos arredores de Dublin. As viagens foram lindas, mas o meu dinheiro evaporou-se com a mesma rapidez dos primeiros seis meses no Velho continente – e, no meu caso, não tinha auxílio financeiro da família. Foi então que decidi encarar o “subemprego”.
E foi aí que surgiu o primeiro grande aprendizado do intercâmbio, pelo menos para mim. Viver em outro país, trabalhando apenas 20 horas por semana, te ensinará duas coisas: como viver de forma simples e que você não precisa de tanto assim para viver.
Na minha rotina não havia nadinha de festas, restaurantes ou bebedeira, como muitos relatam por aí. E não era porque eu não queria, era porque a grana quase não sobrava. Por sorte e persistência, consegui trabalhar em grandes eventos em estádios de futebol, vendendo bebidas e cachorro quente, o que me garantia algum momento de diversão nessas ocasiões. Trabalhava muito, ganhava pouco (o salário mínimo irlandês), mas me divertia um pouco.
O segundo grande aprendizado surgiu justamente pela situação em que me encontrava na Irlanda. Foi aí que descobri a força e a fé imensa que existiam dentro de mim. Eu me dizia todos os dias que tudo isso iria valer muito a pena. Confesso que por diversas vezes pensei em desistir. Mas aí pensava que desistir me levaria de volta a uma vida acomodada, em um país que enfrenta mais uma crise econômica, estrutural, de valores e política – o que também não era nada animador. Tentar outro país sairia caro e a essa altura eu não possuía mais recursos financeiros para tal. Então o melhor era arriscar por aqui mesmo e renovar o visto de estudante acreditando que as coisas mudariam. E mudaram!
Já com o inglês melhor, comecei a fazer mais amizades. A pessoa comunicativa que sou voltou a aflorar e consegui estender o meu networking. Cheguei a enviar mais de 2000 currículos. Consegui umas poucas entrevistas, todas sem sucesso, mas continuei tentando. Não perdia uma oportunidade de interagir. Mesmo durante o trabalho como cleaner, sempre dava um jeitinho de bater papo sobre minha experiência no Brasil.
Passados 15 meses da minha chegada à Irlanda, finalmente as portas se abriram. Depois de tanto contar sobre minhas qualificações profissionais, um empresário notou meu potencial e me concedeu a oportunidade de trabalhar meio período em sua empresa. Foi incrível! Minha primeira oportunidade concreta de mostrar quem eu realmente era. O trabalho se resumia a serviços administrativos, com carga horária fixa, registrada e agora com um salário mensal. Thanks, God!
Foi nesse momento que o intercâmbio me apresentou o terceiro grande aprendizado – e talvez um dos mais importantes: a persistência. Seria fácil ter desistido, seria fácil ter cansado de bancar a intercambista, mas se eu tivesse desistido, jamais teria a oportunidade de mostrar o meu profissionalismo. O “subemprego” me ajudou a chegar até aqui, e foi também ele que me permitiu aumentar meu networking e falar com pessoas que, como aconteceu, puderam notar meu potencial.
Então, o conselho que deixo para você, que tem um perfil parecido ao meu, independente financeiramente e com inglês básico, é: não se intimide ou desista na primeira oportunidade. Venha com uma reserva extra para os primeiros meses de dificuldade, de preferência o suficiente para se manter aqui, sem trabalho, por um bom período, pois você nunca sabe se o emprego surgirá em dois meses ou depois de um ano.
E sim, venha disposto a lavar privada, a ser aupair, a servir, a ser camareira… Na pior das hipóteses todas essas experiências te ensinarão muita coisa sobre você mesmo, sobre os seus limites, sobre o quer você deseja para a sua vida, e ainda te ajudará a agradecer por tudo o que você já tinha e talvez não valorizasse.
O intercâmbio, a Irlanda e essa experiência louca de viver no país dos outros, me serviu de um aprendizado incrível. Foi aqui que eu aprendi a cozinhar bem, a lavar roupas com eficiência, a usar transporte público de forma eficiente, a fazer compras bacando uma economista e a entender que nada é tão simples como a gente pensa.
Desapegue-se do seu currículo incrível do Brasil, se você chegar por aqui com o inglês básico. Concentre-se em melhorá-lo, em ter alguma experiência aqui no exterior, mas ao mesmo tempo não deixe de lembrar a você mesmo e aos outros que tudo isso é temporário, que haverá o dia em que você vai poder se comunicar melhor, estar mais seguro da língua e, consequentemente, mostrar quem você é e todo o seu potencial. Afinal, a língua é apenas um dos aprendizados do intercâmbio.
Com 35 anos, divorciada e sem filhos, a vida aqui na Irlanda parece me acarinhar melhor. Ainda não estou exercendo as minhas maiores habilidades profissionais, mas agora as expectativas são grandes e o entusiasmo maior ainda.
Até o frio desse ano parece estar bem mais suportável que o inverno anterior ;)!
Ficou com vontade de fazer intercâmbio? Comece por aqui!
A série Meu Intercâmbio conta com a colaboração do repórter Fabiano de Araújo e tem o objetivo de dar oportunidade a estudantes que estão vivendo a experiência de intercâmbio na Irlanda, de contar suas histórias, alegrias e perrengues como intercambistas. Se você também quer compartilhar como tem sido a sua nova vida desse lado do globo, basta entrar em contato com: jornalismo@edublin.com.br
Revisado por Tarcísio Junior
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