Quando o intercâmbio acaba antes do planejado

Fazer o intercâmbio já é uma grande decisão, mas dizem que, pra muita gente, a volta é ainda mais difícil.

E quando essa decisão não é tomada exatamente por você ou da forma que você queria? E quando alguma situação acontece e sua melhor ou única opção é o retorno à pátria amada? Como é lidar com a frustração de ver todo seu planejamento sendo modificado sem sua vontade?

Contamos nesse artigo algumas histórias de intercâmbio que acabaram antes do planejado por diversos motivos e como cada um lidou com a situação.

Escola e trabalho…

Camila Silveira, 24 anos, estudante.

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“Decidi fazer meu intercâmbio em setembro do ano passado e comecei a trabalhar mais e a juntar dinheiro. A primeira coisa que fiz foi procurar uma escola. Pra isso, elaborei uma planilha e comecei minhas cotações. Nela incluí os benefícios de cada escola e preço e acabei fechando diretamente com a MEC, pois eles tinham ACELS na época, o que me acalmou em relação aos rumores de fechamento. Até cogitei fechar com uma agência, mas eles não poderiam segurar o pagamento para 15 dias, enquanto diretamente com a escola eu conseguia. Saí do antigo emprego conforme planejado, recebi uma grana, vendi meu carro e minha moto. Ainda assim não tinha todo o dinheiro e estava chegando próximo ao embarque. Então, decidi vender lanche natural na rua e comecei vendendo em salões de cabeleireiros e na frente da faculdade da minha cidade. Com o passar dos dias eu tinha clientes fiéis e vendia 40 lanches/dia. Juntei o restante do dinheiro assim e cheguei em Dublin no mês de abril de 2015. Na semana seguinte minha escola fechou. Perdi todo o meu dinheiro e nem o Irish Residence Permit – IRP eu tinha. Como se não fosse suficiente, tive uma seria lesão nos dois joelhos, que inflamaram me impossibilitando de andar normalmente por quase um mês, fazendo com que eu gastasse horrores em remédios. De repente, surgiu uma grande pessoa no meu caminho, o Edmond Battisti da agência T2T, que sabia da minha história e ofereceu um curso de seis meses na Liffey em troca de trabalhar como cleaner. Depois de umas semanas surgiu a oportunidade de trabalhar como au pair, me mudei para Carlingford e tive que abandonar a escola. Mesmo eu sabendo que o salário era baixo, aceitei o desafio. Trabalhava mais como doméstica do que au pair – 9 h/dia e não folgava de final de semana. Aí veio o que eu menos esperava: depois de quatro semanas trabalhando, um belo dia a minha chefe disse “Decidimos fazer uma viagem, tirar umas férias e precisamos que você volte para Dublin amanhã”. Bom, eu não tinha mais casa em Dublin e fiquei com uma grande amiga que me acolheu como poucos fariam. Foi então que parei para refletir e decidi retornar ao Brasil dois meses antes do planejado, após um tour pela Europa. Vou sentir muita falta da Ilha. É inacreditável o que a Irlanda e o intercâmbio causaram na minha vida. Mesmo com as decepções e obstáculos que passei, vivi coisas ótimas e conheci os melhores amigos da minha vida. Quando chegar ao Brasil, analisarei melhor as coisas e espero conseguir um bom emprego. Mas se não der certo, guardarei um bom dinheiro, correrei atrás da minha cidadania italiana e buscarei uma nova oportunidade de intercâmbio.” always

Camila Silveira. Créditos: Acervo pessoal.

Expectativa X Realidade

Paulo Fernandes, 31 anos, administrador de empresas.

“Tinha uma visão de sair do Brasil e ir para Europa ou Estados Unidos. Escolhi a Irlanda pela facilidade (não precisa de visto antecipado) e pelo custo financeiro também. Cheguei em fevereiro de 2013. No início tudo que é novo é bom! Como Dublin é uma cidade pequena, em 15 dias já tinha visitado quase todos os pontos turísticos e acabei ficando sem novidades. Eu queria mais. Quando saí do meu país queria encontrar prédios modernos (daqueles que você ouve falar que só os países desenvolvidos tem). Depois comecei a me questionar o por quê de estar ali. Aí começou a bater a saudade da minha casa, da família, dos amigos e do meu país. Então começaram a surgir os pensamentos sobre voltar para casa antes do tempo… Tomei a decisão de ir embora. O curso era de seis meses – fiquei apenas três. Se me perguntarem se me arrependo de ter feito o intercâmbio? Foi a melhor experiência da minha vida. Pude conhecer outro país e outra cultura. E, por mais que tenha finalizado antes do planejado, vivi a experiência. Atualmente, estou com o projeto de retornar a Dublin em outubro para concluir o curso.”

Paulo Fernandes. Créditos: Acervo pessoal.

Os bons ventos pararam de soprar ao meu favor…

Bruno Martins Vaz, 30 anos, analista de sistemas.

“Resolvi ir para Irlanda por ser um país com muitas oportunidades na minha área, TI, e pela necessidade de melhorar meu inglês e conhecer uma cultura nova. Cheguei dia 6 de dezembro, bem no meio do inverno e perto das festas de fim de ano, o que demonstrou ser um desafio conseguir uma moradia e dar entrada na documentação para a retirada do visto, pois em épocas de feriados tudo pára. Mesmo assim, consegui locar um apartamento no dia 24/12 e consegui ter um natal e ano novo bem legal, pois compartilhei com outros brasileiros que conheci por lá mesmo.

Após três meses, consegui um emprego como programador na minha área de atuação mas, mesmo empregado, meus gastos com moradia em hostel e comida no primeiro mês me deixaram com pouco dinheiro e precisei apertar o cinto de tal forma que cheguei ao ponto de ter apenas 5 euros na minha carteira para comprar algo para comer para uma semana, até a data em que receberia meu primeiro salário. Já com seis meses de intercâmbio, eu estava bem estabilizado e resolvi trocar de acomodação para um apartamento de cobertura com dois quartos, onde dividiria com apenas um amigo, o que me garantiu bons momentos de diversão com diversas pessoas que fiz amizade em Dublin. Mas foi aí que os bons ventos pararam de soprar ao meu favor. Trabalhei 10 meses nessa empresa, que até então pagou meu salário normalmente. A partir daí começou a atrasar, e depois de um tempo discutindo com minha chefe, fiquei completamente sem dinheiro e precisei voltar para o Brasil.

Meu último mês na Irlanda foi complicado, eu agradeci por ter amigos que me ajudaram a comprar comida, pois eu não tinha nada mesmo. Eu continuava indo para o trabalho, mas quando chegava em casa e via que ainda não tinha dinheiro na minha conta, ficava deprimido. Cheguei ao ponto de chorar quando sozinho, pois eu estava fazendo tudo que podia, estava trabalhando, fazendo as coisas certas, mas via o meu intercâmbio aos poucos se esvair. Eu havia planejado com uns amigos viajar pela Europa nas férias, mas como não havia recebido os últimos meses, tive o plano cancelado.

Quando voltei para o Brasil eu estava muito deprimido. Eu queria ter permanecido mais tempo e realizado meu desejo de viajar pela Europa e conhecer diversas culturas e cidades.  Cheguei a ter a sensação de poder tocar nisso, mas não alcancei, ficou comigo. De fato, mesmo com todas dificuldades e percalços pelos quais passei, ter vivenciado aquele ano morando na Irlanda se tornou uma experiência memorável. Conhecer uma cultura nova, com padrões de vida completamente diferentes dos nossos, nos faz abrir os olhos para um leque de possibilidades. Nosso mundinho se amplia e aprendemos a focar melhor nossas metas e, principalmente, a dar mais valor ao nosso tempo“.

Créditos: Acervo pessoal.

Revisado por Tarcisio Junior

Carol Braziel

Formada em Relações Públicas e pós-graduada em MKT pela ESPM|Brasil. Com mais de seis anos de experiência em MKT, decidiu vivenciar o sonho de morar na Europa, mais precisamente na terra dos Leprechauns. Apaixonada incurável por viagens, tem como vício a leitura e pesquisa sobre destinos, curiosidades e roteiros de viagens pelo mundo.

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