A famosa geração canguru – aquela formada por jovens entre 25 e 34 anos que ainda moram com os pais, resistindo a abandonar a comodidade da casa paterna – é um fenômeno mundial, sempre recorrente na sociedade brasileira. Porém, cada vez mais observa-se o interesse dos mais jovens, na faixa dos 18 anos, de se jogarem no mundo em busca de novas experiências culturais, o que geralmente proporciona um amadurecimento que vai além da fluência em um novo idioma.
O gaúcho Matias Herter foi um desses jovens. Aos 19 anos, embarcou para sua primeira experiência internacional.
Em 2015, na companhia de uma prima e de uma colega do seu antigo trabalho, chegava a Dublin. No coração, o desejo de conquistar coisas diferentes. Apesar de já ter responsabilidades no Brasil, como o trabalho em uma petroquímica, o jovem diz que existia uma vontade latente de buscar novos horizontes. “Foi uma decisão muito acertada, porque o intercâmbio me trouxe ainda mais amadurecimento”.
Nascido numa pequena cidade gaúcha chamada Feliz, Herter garante que, desde muito pequeno, foi educado a fazer as tarefas de casa. Isso fez com que seu processo de amadurecimento fosse mais acelerado do que o de outras pessoas de sua idade. Quando saiu de casa por causa de um trabalho em outra cidade, ele diz que já tinha condições de se virar sozinho. O que mudava, porém, era o fato de que dali para frente seria só “ele por ele mesmo” tomando suas próprias decisões.
Mesmo com a vida independente que já tinha no Brasil, Herter conta que começou a pulsar dentro dele uma vontade muito grande de viver coisas diferentes, que ainda não tinha vivido, como a experiência de estar em contato direto com outras culturas e pessoas de diferentes partes do mundo – e foi isso que o trouxe à Irlanda. “Gosto do clima frio da cidade, da segurança que temos aqui, sem contar que, de fato, é a primeira vez que realmente estou sem ninguém de minha família por perto. Não tenho o meu porto seguro, que são eles, mas ao mesmo tempo, a experiência tem sido enriquecedora”.
A mesma sensação de liberdade e de novas conquistas foi destacada pela jovem Indiamara Carmela Claudino para justificar sua saída do Brasil. Aos 18 anos, ela se diz realizada e feliz pela escolha que tomou. No entanto, explica que no início pode ser assustador pensar em ter uma vida fora da casa dos pais. “Crescer requer sacrifícios, mas no final você descobre que a independência é a melhor sensação que existe”.
Nascida em uma cidade do interior de Santa Catarina, ela é a filha do meio. Indiamara confessa que, ainda na infância, já tinha o interesse de morar fora do Brasil, mas Dublin nunca tinha sido uma opção. Sonhava com a Inglaterra, mas quando começou a pesquisar os prós e os contras, viu que o destino mais apropriado para ela seria a Ilha Esmeralda, pela facilidade do visto de estudante e a possibilidade de trabalhar legalmente meio período.
Os primeiros dias no novo país foram os mais difíceis. Estava sozinha e as decisões teriam que ser somente suas, como escolher acomodação com preço acessível e boa localização, as primeiras compras no supermercado – sem contar a incessante busca por trabalho. “A realidade bate realmente quando ouvimos muitos “nãos” de empresas que exigem experiência”. Mesmo assim, ela conseguiu um emprego temporário como au pair, o que lhe ajudou a poupar no início. Porém, logo depois ficou desempregada e teve que recomeçar a saga por um trabalho, mas agora com a vantagem de ter referências, curso de barista e de ter melhorado o inglês. “Tudo isso me faz acreditar que algo bom estava por vir. O segredo é não ficar parada ou desistir no primeiro ‘não’ que recebemos”, aconselha.
Passados os primeiros meses após sua chegada em Dublin, Indiamara aponta que pôde constatar na prática que a vida adulta não é tão fácil como pintada em alguns filmes, e que ser dona do próprio nariz não é uma tarefa fácil. Morar sozinho, segundo ela, às vezes exige decisões rápidas e riscos devem ser tomados. “Intercâmbio é uma experiência única. Aprendi muitas coisas em quatro meses, que demoraria muito mais tempo se estivesse no Brasil”, compara.
Entre as principais dificuldades, ela destaca a saudade da família, do conforto de casa, do país (ela não imaginava que sentiria tanta falta do Brasil), o clima muito diferente, além do choque cultural. “Morar com estranhos é se sentir parte de uma família que sempre muda, mas menos assustador do que eu imaginava. Você conhece muitas pessoas, mas elas não vão continuar com você por muito tempo. Isso é normal na vida de um intercambista”.
Num rápido balanço de sua experiência até o momento, ela se sente orgulhosa das lições aprendidas, ressaltando que foram momentos que marcaram o início de sua vida adulta.
Revisado por Tarcísio Junior
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