Quando se está na casa dos 40 anos, as preocupações sobre trabalhar na Irlanda aumentam, e muito, uma vez que chegamos aqui com o modelo brasileiro na cabeça – onde não ser mais um garotinho pode pesar na hora de procurar por trabalho.
Então você vem para Irlanda, traz os seus 3 mil euros, mais um dinheiro extra para os primeiros dias (no meu caso 1500 euros se foram rapidinho nos primeiros dois meses com o cartão do visto, caução da acomodação, despesas com a adaptação na cidade e por aí vai).
Aliás, esses dois primeiros meses são intensos. É quando você começa a estudar, correr atrás de residência fixa, colocar em dia a sua documentação e resolver mais um monte de coisas naturais do processo de adaptação em um novo país. Depois que toda essa avalanche passa, chega a hora de se concentrar em outro tópico importante: o emprego.
Infelizmente, os 3 mil euros não rendem muito e, como dinheiro não dá em árvores, se você não se cuidar pode acabar voltando para o Brasil antes mesmo de terminar os 6 meses de curso.
Desde quando comecei a pesquisar o tópico “emprego” durante o intercâmbio, o achava um tanto complicado, pois varia muito de pessoa para pessoa. Há pessoas que vão se desesperar logo nos primeiros meses sem conseguir nada, outras que se acomodarão, outras ainda que pensarão em voltar para o Brasil no primeiro NÃO que receberem. Mas há também uma turminha que encara sem medo os desafios e pouco a pouco encontram seu lugar no mercado de trabalho irlandês. No final das contas, a verdade é que não existe uma fórmula única.
Foi difícil. Meses de procura e nada. Bateu o desespero? Claro! Mas, posso dizer que o processo foi de um aprendizado muito grande. Percebi que aqui na Irlanda, na hora de procurar emprego, não importa se você tem 20 anos ou 40. O preconceito também é infinitamente menor que no Brasil.
O que vai contar mesmo é a sua desenvoltura com o inglês, seja qual for o nível. Como a Juliana Vital contou nesse video do PCVV, as experiências de entrevistas podem ser surrealistas, e no final dar certo. A sua disponibilidade para encarar qualquer tipo de trabalho, mesmo aqueles aquém da sua qualificação, também é um ponto importante.
No momento da procura por trabalho, a primeira coisa que se percebe é que, quase sempre, os anos de trabalho e a experiência em empresas no Brasil não valem quase nada. É como se as suas qualificações não embarcassem com você para o intercâmbio. Na realidade, o idioma se transforma em uma das principais ferramentas na integração e adaptação em um novo país, e se você não o tem, o seu currículo de graduação, pós graduação, MBA, acaba ficando em segundo plano – pelo menos nessa etapa inicial do processo.
Você fatalmente terá que recorrer aos CVs de “Cleaner”, como se diz por aí, e ainda posar de profissional experiente com um ou mais anos de experiência. Posso afirmar com propriedade que é uma sensação esquisita, mas o fato é que na terra dos outros, em um novo contexto cultural e com o inglês básico, o melhor que se faz é encarar a realidade de uma vez.
Estar preparado para os “nãos” é o ponto chave na busca de uma vaga de trabalho. Nem sempre o local onde você vai buscar uma vaga vai te dar atenção. Muitos, por exemplo, nem irão receber o seu currículo. Então é importante você se adaptar e não encarar o “Não” como o fim do mundo. A atitude positiva e o olhar sempre para frente serão virtudes fundamentais nessa etapa do processo. Acredite em si, pensamento positivo e move on.
Você tem duas opções: ficar em casa esperando o seu intercâmbio terminar ou procurar uma ocupação voluntária. No meu caso fui em busca de trabalhos voluntários, o que se tornou uma grande oportunidade de praticar a conversação em inglês, além de contar pontos extras no meu currículo, já que qualquer experiência realizada no país se torna relevante.
Uma coisa que já sabia antes de chegar a Irlanda era que o trabalho não estava fácil para ninguém. Então, a dica é: não entre em pânico. Venha preparado com uma graninha extra, ou pelo menos não estoure tudo com a excitação das primeiras semanas. Ao final, diante das histórias que tenho escutado, uma hora ou outra a grande maioria encontra um trampo.
Na pior das hipóteses, se o emprego não aparecer e você, por fim, decidir antecipar a sua volta para o Brasil, já levará muito na bagagem: a vivência no exterior, ter conhecido outra cultura, outros costumes, ter melhorado o inglês e também ter melhorado como pessoa.
Para mim, o tão celebrado Trabalho chegou depois de sete longos meses. A jornada foi árdua, mas valeu muito a pena. Os dois primeiros jobs – o primeiro de cleaner e o segundo de kitchen porter – foram por temporadas muito curtas. No terceiro, finalmente tive um contrato formal.
Atualmente trabalho em uma empresa na qual entreguei cinco currículos antes de conseguir a entrevista. O inglês ainda oscilante não me ajudou e eu não passei, mas mesmo assim pedi para fazer um teste sem compromisso, pois tinha muita vontade de trabalhar. A estratégia funcionou, já que dois dias depois me chamaram para fazer parte da equipe!
Esse texto faz parte da série Dublin para Maiores, assinado pelo nosso colunista Fabiano de Araújo e conta a perspectiva daqueles que decidem fazer intercâmbio na maturidade.
Fabiano de Araújo é gaúcho de carteirinha, mas catarinense de coração. Formado em Comércio Exterior, trabalhou 10 anos com exportação. Um belo dia resolveu largar tudo e encarar um intercambio próximo dos 40 anos, como forma de entrar na melhor idade realizando sonhos. Amante por viagens inesperadas está sempre com uma mochila pronta para encarar desafios. Resolveu compartilhar de sua aventura com os demais por acreditar que nunca é tarde para realizar sonhos.
Imagens via Shutterstock
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