Assim que cheguei à Irlanda, meu primeiro endereço foi Dublin. Passados sete meses aproveitando essa capital extraordinária, decidi me aventurar e ter novas experiências no interior.
Mudei-me para Limerick City, o que não foi bem o que eu imaginava de uma cidade do interior. Esperava vaquinhas e ovelhinhas por todo lado, mas encontrei trânsito, muita gente circulando, grandes lojas conhecidas, tais como Zara, H&M, Penneys, etc.
Em Limerick, trabalho em um café no Crescent Shopping e, devido às restrições causadas pela pandemia, o estabelecimento se viu forçado a fechar.
Já que eu iria ficar em casa esperando o lockdown terminar, meu namorado, que é irlandês, me convidou para passar alguns dias na casa dele, no condado de Laois (se pronuncia Lis, mas falando igual carioca: lixxx).
Em Laois, sim, é interior. Encontrei as vaquinhas e ovelhinhas que eu estava procurando. Esses “alguns dias” se tornaram em uma estadia de 3 meses — de março a julho de 2020 —, ou seja, toda a primeira fase do lockdown na Irlanda.
Foram 3 meses de descobertas, novos vocabulários, uma perspectiva sobre a vida no campo e tendo a oportunidade de estar no seio familiar irlandês.
Mesmo para mim, carioca da gema, acostumada com o fervor da cidade, me rendi aos encantos do interior da Irlanda (e também aos encantos do meu ruivinho irlandês).
Foi e ainda é um aprendizado entender os diferentes sotaques na Irlanda. Cada condado tem seu próprio jeito de falar. Em Limerick, por exemplo, existe uma melodia ao falar, é um quase cantar.
Já em Laois, a velocidade que eles falam, misturado com a pronúncia e gírias locais, faz com que seja mais difícil de compreender o que eles estão dizendo. Mas não é impossível, com o tempo o cérebro se acostuma.
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Me diverti aprendendo novas palavras e expressões que não aprendi na escola de inglês. Minhas favoritas são “googies”, que significa ovos; “spuds”, que é o mesmo que batatas, e “telly”, igual a televisão ou TV.
“Taking the piss” (brincando, sacaneando alguém), “giving out” (dando bronca) e “poor craytur (creature)” ou “poor thing” (tadinho) são expressões básicas se você quiser soar um pouco mais irlandês.
Considero gaélico bem difícil, mas há duas palavras que precisei aprender, uma vez que foram faladas repetidas vezes durante a quarentena. Como o governo tinha que se pronunciar constantemente a respeito do coronavírus e lockdown, eu sempre via nas notícias os nomes “Taoiseach” e “Tánaiste”, que significam primeiro-ministro e vice-primeiro-ministro, respectivamente.
Não sou uma leitora assídua e preciso confessar que livros raramente conseguem prender minha atenção. Porém, acredito que fui imbuída pelo espírito do campo e mergulhei nos livros da autora Alice Taylor, nascida e criada no condado de Cork.
Em seus livros, ela conta histórias de sua infância e compartilha costumes, cultura e tradições na Irlanda. Há inúmeros livros dessa autora, mas o livro To School Through the Fields tocou meu coração profundamente.
Enquanto no Brasil nos sentamos para assistir ao Jornal Nacional, para ficarmos atualizados com os acontecimentos em nosso país, na Irlanda, às 21h, é o momento de todos acompanharem as principais notícias na RTÉ News.
Por ter acesso à TV local, passei a me interessar mais pelos programas e séries irlandesas. Virei fã de “Normal People”, uma série que é possível assistir de graça utilizando o aplicativo da RTÉ.
Trata-se de um romance entre adolescentes que vivem no condado de Sligo e que depois se mudam para Dublin a fim de estudar na famosa Trinity College. Uma ótima oportunidade para praticar o “listening” com sotaque e gírias irlandesas.
Outra sugestão é a série “Young Offenders”. A princípio, a comédia irlandesa foi lançada como filme, mas, em razão do sucesso, foi transformada em série. Além de ser muito engraçada, é possível perceber as diferenças do sotaque de Cork.
Acho que uma das coisas que mais me encantou no interior foi a preparação para o inverno, que se dá durante o verão.
O verão é o momento de estocar comida para os animais, comprar madeira para lareira e garantir a casa quentinha.
Tive a oportunidade de acompanhar todo o processo de colheita e estoque de silagem (“silage”). É um tipo de grama que é compactado, empacotado e estocado para alimentar os animais durante o inverno.
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Talvez isso seja normal para alguém que viva na área rural do Brasil, mas para mim foi uma experiência única.
Normalmente, esses rolinhos de silagem são embalados com um plástico preto para serem estocados. Porém, alguns fazendeiros optam pela embalagem rosa a fim de contribuir financeiramente para o Irish Cancer Society. Essa instituição de caridade se dedica à prevenção, detecção, tratamento e apoio às pessoas com câncer.
Há também a produção de turfa (“turf”), um material de origem vegetal, parcialmente decomposto, que é encontrado em pântanos (“bogs”). Por ser inflamável, é utilizado como combustível para aquecimento doméstico. É comercializado por grandes empresas ou por donos de terras pantanosas.
Quis ter a experiência de como é trabalhar com isso e passei umas duas horas ajudando a organizar os tijolinhos. É um trabalho árduo e, além da experiência, adquiri uma terrível dor nas costas.
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Algo que eu não consegui me adaptar é o fato de que o almoço é apenas um lanchinho. Um sanduíche, uma fruta ou, às vezes, apenas um “scone” com geleia.
Aliás, engordei uns quilinhos de tanto “scone” e “apple tart” que comi durante a quarentena. E por ser scone caseiro, impossível resistir quando sai do forno quentinho.
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Já ouvi dizer que há alguns irlandeses que não são adeptos ao “Irish Breakfast”, mas isso não se aplica à minha família. Bacon e linguiça são itens essenciais na geladeira e um domingo feliz é um domingo que se inicia com um prato assim.
A Irlanda é uma ilha repleta de diferentes cenários e experiências e sou muito grata por ter histórias como essa para contar.
Afinal, a vida é feita de experiências e conexões com momentos, lugares e pessoas. Aceitar o novo e se despir de preconceitos faz com que ocorra uma metamorfose dentro de nós, expandindo a nossa alma e mente.
Há uma frase que levo como lema para minha vida:
“Encha sua vida com experiências, não com coisas materiais. Tenha histórias para contar, não coisas para mostrar.” (Desconhecido)
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