Foram quatro anos de muita paciência, estudos e dedicação para chegar o momento de celebrar o tão sonhado emprego na minha área acadêmica.
Posso afirmar: não é fácil! Foi uma caminhada longa e árdua na qual eu precisei conquistar o meu espaço pouco a pouco, além, claro, de ser resiliente.
Conforme relatado em tantos outros artigos aqui, eu saí do Brasil no final de 2014, com uma idade já considerada elevada paro o intercâmbio (38 anos), praticamente um quarentão.
Deixei para trás a estabilidade financeira, um bom emprego e certas mordomias, tais como carro, apartamento e um legado de amigos e familiares. Na mala, além da coragem, trouxe muitos questionamentos e aquela dúvida que insistia em pairar no ar: será que tomei a decisão certa?
De lá para cá, muita coisa aconteceu. A cada desafio, encarei o intercâmbio com maturidade e confiança, acreditando que nem a idade nem os contratempos, comuns no intercâmbio, me impediriam de crescer. Aliás, vale lembrar também que cheguei à Irlanda com inglês zero.
O aprendizado foi surpreendente e não se limitou ao inglês! Tive que aprender a dividir casa e quarto com pessoas que jamais imaginei um dia conhecer. Fiz e refiz meu currículo inúmeras vezes, no intuito de conseguir qualquer tipo de trabalho que pudesse bancar as minhas despesas e viagens.
Consegui, com muito esforço e organização, o dinheiro para as duas renovações do curso de inglês e, assim, fui ficando na Ilha, mas sempre de olho no mercado profissional e minha área de formação.
Eu costumo analisar a vida conforme meu falecido avô dizia: “O sucesso de uma vida promissora não começa no meio de uma escada, devemos subir degrau a degrau, um de cada vez e ao seu tempo”. E foi o que eu fiz com o meu intercâmbio. Foquei no meu objetivo e acreditei na minha formação acadêmica, na minha capacidade profissional, com resiliência e, principalmente, minha disponibilidade para recomeçar.
No intercâmbio — sem falar praticamente nada de inglês e com toda a instabilidade que a experiência apresenta —, eu encontrei o meu companheiro. Ele não é gringo, como as pessoas esperam quando estamos morando fora. Brasileiro como eu, foi o responsável por me apoiar naqueles momentos em que dava vontade de desistir. Foi ele quem me fez acreditar em mim mesmo e buscar oportunidades profissionais melhores.
Muitas pessoas saem do Brasil acreditando que os trabalhos informais, em restaurantes e no setor de limpeza são as únicas opções para nós estrangeiros. De fato, nos primeiros meses de intercâmbio, os famosos subempregos são praticamente as oportunidades que aparecem, mas todos nós temos a possibilidade de transpor essa fase e correr atrás das oportunidades profissionais em nossas áreas. Sou um exemplo de que isso é possível.
Dessa vez, o foco era me preparar para o mercado irlandês, saber como me apresentar, como procurar uma vaga relacionada à minha área de formação, como me portar em uma entrevista para o mercado de trabalho e, mais, aprender a escutar, entender e me comunicar, tudo isso ao mesmo tempo, em uma língua sobre a qual não me sentia seguro.
Novamente, nada veio fácil. Foi tudo com muita luta e perseverança. Os “nãos” vieram, assim como o desânimo e, algumas vezes, aquela pergunta que insiste em aparecer de tempos em tempos: “O que eu estou fazendo aqui?”
A busca pelo emprego em minha área não foi menos desafiante que o processo dos primeiros meses para conseguir qualquer emprego a fim de suprir as contas.
Pesquisar, contar com a experiência de quem já está aqui, encarar os nãos e, mais importante, jamais desistir. Para mim, essa jornada durou quatro anos e, hoje, é uma satisfação sem fim poder sair de casa para trabalhar em um setor que domino, conheço bem e do qual posso me orgulhar. Agora, tenho como incluir no meu currículo a posição profissional internacional em minha área de formação acadêmica.
Fazer intercâmbio pode, sim, significar dar alguns muitos passos para trás, para, só então, chegar aonde se almeja.
E você aí? Ainda está em cima do muro e apenas vislumbra os trabalhos informais ou os famosos subempregos durante o seu intercâmbio? Não deixe de arriscar e acreditar no seu potencial!
No meio do caminho, haverá, sim, muitos obstáculos. O seu talento pode, até, ser menosprezado por alguns, mas isso pouco importará se você continuar alimentando a sua força de vontade.
Se você também tem aquele bichinho que impulsiona para o novo, o diferente, certamente será capaz de encarar de cabeça erguida todas as adversidades.
Queria contar esse novo momento para vocês aqui no E-Dublin e também encerrar a minha coluna. Com vocês, encontrei um canal para compartilhar parte dessa jornada. O objetivo era motivar outros quarentões a apostar em seus sonhos e mostrar que, quando o assunto são sonhos, a idade é apenas um detalhe.
Então, é também aqui que deixo o meu muito obrigado para todos aqueles que leram meus textos, minhas histórias e que, hoje, podem celebrar comigo a minha vitória.
A sensação é de dever cumprido, de muita coisa compartilhada do fundo do coração e a vontade, agora, é deixar esse espaço aberto para outros sonhadores que, como eu, acreditam no sonho do intercâmbio e que não querem seguir nessa jornada sozinhos.
Um grande abraço a todos e sucesso nessa terra chamada Irlanda!
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