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Reflexos da crise no trabalho – parte 2

Algumas semanas atrás comentei do impacto que a crise estava fazendo no meu trabalho.

Foram cortes de gastos com material para empresa (cartões, papéis timbrados, post-its, etc), taxis (sim, taxi, o veículo) e quem ganharia bônus, ficou de mãos abanando.

Pois é, mas a crise nao parou por aí. Na última semana de trabalho o Diretor da empresa nos chamou para uma reunião emergencial, onde seria mandatória a presença de todos. Coisa de 30 minutos.

Nos reunimos no studio (onde ficam os criativos), e ele nos contou que mesmo com cortes, a empresa havia fechado o ano com o revenue 40% menor que o do ano anterior. Isso sem contar que esse ano tiveram investimentos em equipe, mais gente contratada, etc, e era de se esperar um aumento de 17% de lucro em relação ao ano anterior.

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Pra quem não lida com budgets/investimentos pode parecer absurdo querer que uma empresa cresça 17% em um ano, mas seria possível caso nossos clientes (também impactados pela crise) não tivessem cancelado jobs/fees e novos jobs (concorrência) não houvessem sido cancelados e postergados.

Apesar disso, tem uma coisa que não tenho do que reclamar: nosso Diretor cuida de pessoas. Foi a primeira frase que ouvi quando entrei na empresa. “Keith looks after people“.

E com esse pensamento, ao invés de demitir os funcionários, ele pediu para que aceitássemos um paycut. Paycut significa em simples palavras: corte no salário.

A “proposta” foi aceita, claro. Além disso, somos uma empresa pequena onde todos se conhecem e são abertos, entao aconteceu uma espécie de bate-papo depois da notícia, pra ver como poderíamos fazer a empresa voltar a lucrar em 2009.

Isso talvez não aconteceria no Brasil com todos os funcionários, talvez o Conselho e Diretoria, mas não com todos em uma mesma sala.

Infelizmente com essa notícia algumas coisas voltaram a estaca zero. Cursos fora (ou pagos) estao fora de cogitação. Além disso, tenho trabalhado quase dobrado (não em horas, apesar de meu almoço que era de 18 minutos passou pra 3 minutos com pausa) para tentarmos sair da fase estratégica e cair na produção e criação de novas propostas, afinal, é o que faz gerar dinheiro.

Mesmo trabalhando bastante, evito sair depois das 18:30, 19 horas, para não estressar. Engraçado que não sinto que estou sendo explorado ou qualquer outro adjetivo que usaria no Brasil. As “contas” da empresa são tão abertas e a maneira como nosso Diretor conversou foi tão sincera que é óbvio que estamos com um problema, e não adianta tentar fugir ou tocar o foda-se e falar “a empresa que se vire”.

E nesse espírito que confio que vamos superar essa. A redução de salários variou de 3% a 5%, dependendo do ganho anual. Muitos parecem ter deixado de ser crianças da fazenda pra colocar a mão na massa. Quando temos reunião no cliente, o pessoal ja não pede reembolso de gasolina ou estacionamento, pois essa é uma forma também de ajudar.

Parece que eu nunca faria isso, mas sim, estou fazendo. Enviei uma documentação para UK pela DHL (encomenda “urgente” pra chegar antes do Natal) e deu 22 euros. Também não pedi reembolso, e nem vou pedir. Acho que esse esforço volta de uma forma melhor pra gente. Seja psicologicamente, seja monetariamente.

[UPDATE]

Alguns me perguntaram “E aí Edu, mas você fica ou ta procurando outra coisa?”

Claro que temos que nos preparar para o pior, e não paro de enviar CV para outras empresas. Aliás, nunca parei. Mas comeca a ficar um critério mais seletivo também.

Por outro lado, essa crise está afetando as outras agências também, então o cenário não deve mudar muito.

Existe o risco? Existe. Mas estamos sempre correndo riscos, seja no emprego, seja largando tudo pra vir pra Irlanda. O Homero mesmo já disse e assino embaixo, foi pra isso que viemos.

Edu Giansante

Fundador e CEO do edublin, Edu chegou na Irlanda em 2008, no ano pré-crise, pegou a nevasca de 2010 e comeu cérebro de cabra em Marrakesh. O Edu também é baterista da banda Irlandesa Medz.

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