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Robert Emmet, o Dom Quixote irlandês

Nós, reles intercambistas, enquanto estamos no conforto de nossas casas planejando o nosso tão sonhado intercâmbio pesquisamos tudo sobre o nosso destino, desde como são as ruas até a história do lugar. Entretanto, ao pisarmos no nosso destino e sentirmos o friozinho na barriga, acabamos mudando o ritmo das coisas e pisando no acelerador de modo que vivamos intensamente cada segundo em terra estrangeira, afinal, tudo é novidade, e quase nada do que havíamos pesquisado outrora corresponde à realidade que enfrentamos. Há sempre uma surpresa no caminho!

Agora que você já está por aqui e possivelmente já acelerou o seu ritmo, que tal desacelerar um pouco e mergulhar na história da Irlanda?

Uma boa forma de fazê-lo é passear pelas ruas da cidade observando a arquitetura e os monumentos. A infinidade destes é a maior prova de quanta história a Irlanda, especialmente Dublin, tem para revelar! E falando nisso você já ouviu falar em Robert Emmet?

Quem foi Robert Emmet?

Para aqueles que nunca ouviram falar, apresento-lhes ele, mais um herói nacional, Robert Emmet! O cara era tão bom e sua luta é tão atemporal que hoje em dia são feitas, por parte dos estudiosos, muitas comparações entre ele e Dom Quixote. Pois é. O clássico Quixote, aquele que enlouqueceu de tanto ler os romances de cavalaria!

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Antecessor a O’Connell e muito criticado por este por seu temperamento característico de todo herói romântico, Emmet lutou bravamente por seu país. Diferentemente de O’Connell, nosso herói deste post acreditava que os fins justificavam os meios, assim como Maquiavel. Não importava “como” o objetivo seria atingido, mas o quão rápido isso aconteceria, pois o povo merecia ser livre.

Robert Emmet nasceu em Dublin em 1778 e no mesmo lugar foi educado; Emmet foi um dos alunos da famosa Trinity College, diferentemente de O’Connell, que se formou em Direito fora da Irlanda.

Seu triste – e romântico – fim é determinado em função de sua postura política, que teve seu início marcado com o seu envolvimento com a organização intitulada “United Irishmen” cujos objetivos eram a Emancipação Católica e a Reforma.

Rebelião de 1803

Ainda enquanto membro da organização supracitada, Emmet foi exilado, mas voltou para Dublin, acreditando ter o suporte francês para enfrentar a coroa inglesa, e começou a organizar o que ficaria conhecido como a Rebelião de 1803. Ele foi forçado a lutar antes do que previa e sem o suporte planejado por conta de uma explosão em um dos depósitos de armas, em 23 de julho. Sua bravura e seu escasso exército tornaram-no vulnerável, o que ocasionou sua prisão acompanhada da pena de morte.

Para alegria sua, de seus seguidores e de sua noiva, Sarah Curran, Emmet conseguiu escapar e se refugiar nas belíssimas montanhas de Wicklow. Entretanto, como bom herói romântico, nosso Quixote irlandês mudou-se para a Harold’s Cross Road para ficar perto de sua noiva e para eles poderem planejar juntos a fuga para a América, mas infelizmente seus planos não se concretizaram e em 25 de agosto ele foi pego e aprisionado, mas desta vez sem a chance de desviar-se do triste fim.

Emmet foi prisioneiro em Kilmainhan Gaol, que hoje é um museu e pode ser visitado diariamente. A visita é barata (com desconto para estudantes) e vale muito a pena, não só para conhecer um pouco da história da Ilha e poder fazer uma viagem no tempo, como também para treinar o inglês, já que as visitas são guiadas por nativos.

The Speech from the Dock

Emmet foi acusado por traição grave à pátria e condenado à morte. Quando lhe foi dado o direito de falar antes de sua execução, o Quixote irlandês deixou uma de suas maiores heranças: o seu discurso heroico, conhecido como “Speech from the Dock”. O original pode ser encontrado na íntegra aqui.

“Vossas Altezas:

O que eu tenho a dizer sobre o porquê de a sentença de morte não dever ser pronunciada a mim de acordo com a lei?

Eu não tenho nada a dizer que possa alterar vossas predeterminações nem mesmo esta me fará proferir nada com vistas à atenuação da sentença que Vossas Altezas estão aqui para pronunciar, e eu devo respeitar. Mas eu tenho que me pronunciar sobre o que me interessa mais que a vida, e sobre o que Vossas Altezas têm trabalhado (como era necessário, em vossos aposentos, diante das circunstâncias do cenário deste país oprimido) para destruir. Eu tenho muito a dizer sobre as razões pelas quais minha reputação deveria ser resguardada das inúmeras falsas acusações e calúnias que têm sido proferidas sobre mim.

Eu não imagino que, sentados onde Vossas Majestades estão, vossas mentes possam estar tão livres de impureza de modo a receber o mais ínfimo sentido daquilo que estou prestes a proferir – eu não tenho esperanças de que eu possa incutir meu caráter no âmago de uma corte já constituída e limitada como esta –, eu só desejo, e isto é o máximo que eu posso esperar, que Vossas Altezas possam sofrer para suprimir vossas memórias ainda não contaminadas pelo fétido preconceito até que que possam encontrar algum porto mais seguro para permiti-las existir, longe da tormenta à qual têm estado expostas.

(…)

Eu apelo ao imaculado Deus – eu juro pelo trono do paraíso, diante do qual em breve deverei aparecer – pelo sangue dos compatriotas assassinados que se foram antes de mim, pela minha conduta, que foi toda em função deste cenário, e pelos meus propósitos, que foram todos eles apenas governados pelas minhas convicções, já proferidas, e por nenhuma outra razão, que não a da cura e a da emancipação do meu país desta opressão extremamente desumana que ela, a minha pátria, há muito tempo e tão pacientemente tem suportado.

(…)”

Tradução livre feita pela autora do texto.

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