Um dos personagens mais icônicos na história da Irlanda, São Patrício (St. Patrick) pode ser visto como símbolo de fé e do folclore irlandês.
Isso porque sua figura mistura a história de um missionário enviado à Irlanda para pregar sua fé, mas sua trajetória é misturada a muitas lendas, mostrando o personagem com poderes sobrenaturais.
Mas São Patrício era simplesmente um jovem ex-escravo e sacerdote que foi incumbido de levar a doutrina cristã para a Irlanda, de onde se tornou patrono.
Com muito jogo de cintura e paciência — e um pezinho na bruxaria como contam as muitas lendas irlandesas —, ele mudou a crença do povo daquela época, os celtas.
São Patrício nasceu em uma Grã-Bretanha sob o domínio romano, no final do século 4, não se sabe exatamente que data foi, entre 373 e 390 DC. Também não é certo o local de seu nascimento. Alguns dizem Escócia, mas outros acreditam ser no País de Gales.
Seu nome também nada tinha a ver com Patrício (ou melhor, Patrick). Historiadores acreditam que ele se chamava Maewyn Succat, filho de Calpornius, um oficial do exército romano-britânico e diácono.
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Aos 16 anos, Maewyn Succat foi sequestrado por piratas irlandeses e vendido como escravo na Irlanda. Ele ficou preso no norte da ilha, trabalhando como pastor de ovelhas e cuidando de porcos no Monte Slemish, dentro do condado de Antrim, na Irlanda do Norte.
Nesse período, o garoto foi se tornando cada vez mais religioso. Sua fé foi tanta que ele considerou o sequestro uma forma de mudança de vida, de encontro com Deus.
E foi orando que ele teve uma visão que o levou a encontrar um barco que partia com destino à Grã-Bretanha. Ele fugiu e conseguiu voltar para casa, junto à sua família.
A história de todo santo dá muitas voltas e não foi diferente com São Patrício. Mesmo tendo sofrido os horrores da escravidão em terras irlandesas, ele teve um sonho onde era chamado à voltar para a Ilha e falar sobre a existência de Deus para os povos que lá viviam. Mas ele não se sentia seguro para pregar a palavra de fé.
Foram anos de estudo em um mosteiro na França para que se tornasse padre e missionário. Lá, ele ficou por 12 anos antes de retornar à costa irlandesa como bispo e com a bênção do Papa. Sua missão: catequizar o povo celta.
Desembarcando em Strangford Loch, condado de Down, São Patrício começou sua busca na catequização da Irlanda.
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Ao contrário do que acontecia no resto da Europa, onde a fé católica era imposta pelo Império Romano e, muitas vezes, com apelo de guerra, Patrício foi muito mais esperto. Ficou íntimo dos druidas, que eram encarregados das tarefas de aconselhamento e ensino, e de orientações jurídicas e filosóficas dentro da sociedade celta.
Aos poucos, São Patrício foi adicionando elementos da fé cristã na cultura local. Um exemplo? O trevo! Quer elemento mais irlandês que esse? Ou você acha que essa foi uma invenção do Patrício?
Na cultura celta, já havia o conceito da trindade, só que, para eles, a representação era de corpo, alma e mente. O santo apenas “adaptou” algo que já existia e passou a doutrinar os celtas usando os trevos (shamrocks) para explicar a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).
Pronto! Era o que o povo precisava para simpatizar com a fé cristã.
São Patrício foi preso diversas vezes, pois sua presença perturbava chefes locais ou os druidas celtas. Por vinte anos, ele viajou por toda a extensão da ilha, batizando pessoas e estabelecendo mosteiros, escolas e igrejas por onde passou.
Assim, foi São Patrício quem levou o Cristianismo à Irlanda, que, posteriormente, tornou-se um dos países mais cristãos do mundo, com reflexos dessa fé até hoje.
Quando morreu, em 17 de março de 461 ou 493, em Saul, condado de Down, São Patrício deixou uma igreja organizada, a sé de Armagh, que foi o centro do Cristianismo na Ilha. A igreja foi destruída 17 vezes e restaurada no século 19. Hoje, uma catedral existe em seu lugar, no condado de Armagh, na Irlanda do Norte.
São Patrício, segundo relatos de historiadores, foi enterrado na Down Cathedral, em Downpatrick, condado de Down.
Muito do que se sabe sobre a vida de São Patrício está em um livro autobiográfico, Confessio.
São muitos os mitos que envolvem a história de São Patrício, dando um ar mágico e misterioso à sua trajetória como missionário na Ilha. Separamos aqui os principais deles:
Reza a lenda que São Patrício também botou para correr todas as serpentes da Ilha. No entanto, a verdade é que as serpentes foram usadas apenas como uma metáfora para que a população compreendesse o que o santo fez.
As cobras representavam os ritos pagãos e todas as coisas que a fé católica colocava como pecado e que deveriam ser banidos. E funcionou! Não existe um irlandês que não acredite na história, além do que nunca houve notícia de cobras com cidadania irlandesa. Ou quase!
Conforme já contamos, o trevo de quatro folhas foi usado por São Patrício para explicar a Santíssima Trindade aos celtas, um povo pagão. Mas a história não é 100% comprovada. O trevo, por sua vez, tornou-se um símbolo incontestável da Irlanda, reconhecido mundo afora e presente em outras lendas, como a do Leprechaun.
Um famoso poema irlandês é atribuído a São Patrício, The Deer’s Cry or St Patrick’s Breastplate, que fala sobre um poder chamado “féth fíada”, utilizado pelo santo para transformar a si mesmo e seus companheiros em veados selvagens.
Assim, eles poderiam escapar de emboscadas e partir para a colina Hill of Tara, no Boyne Valley, uma antiga capital da Irlanda e, para os druidas, a sagrada morada de seus deuses.
São Patrício passou 40 dias da Quaresma no condado de Mayo, em uma montanha agora conhecida como Croagh Patrick. Diz a lenda que, nesse tempo, ele foi perseguido por demônios disfarçados de pássaros, que formavam um aglomerado tão denso que o céu ficou negro.
São Patrício continuou a rezar e tocou seu sino como uma proclamação de sua fé. Em resposta às suas orações, um anjo apareceu e disse que todas as suas petições em nome do povo irlandês seriam atendidas e eles manteriam sua fé cristã até o Dia do Juízo.
São Patrício estava pregando perto de uma pedra pagã, considerada sagrada e que já estava gravada com o símbolo dos deuses do Sol e da Lua. São Patrício é creditado por desenhar uma cruz cristã através do círculo e abençoar a pedra, criando a primeira cruz celta irlandesa.
Isso seria uma forma de mostrar que ele estava disposto a adaptar as práticas e os símbolos pagãos às crenças cristãs, fazendo uma transição mais fácil entre o paganismo e cristianismo.
A festa celta Beltaine era um grande festival para celebrar o início do verão e o triunfo sobre os poderes das trevas. Uma fogueira era acesa pelo Rei da Irlanda no topo da Hill of Tara e seu fogo seria então usado para acender todas as outras fogueiras país afora.
Diz a lenda que São Patrício acendeu a fogueira antes de Laoghaire (ué, mas já ouvi falar deste nome antes), o rei da época, atraindo a atenção dos chefes pagãos, os druidas, que relataram que o fogo de São Patrício tinha poderes mágicos porque eles não puderam apagá-lo.
Rei Laoghaire também foi incapaz de extinguir o fogo e aceitou que São Patrício era mais poderoso que ele. Por isso, mesmo não convertido ao Cristianismo, Laoghaire endossou a missão de São Patrício em terras irlandesas.
O dia 17 de março é o dia em que São Patrício teria morrido — assim como os dados de seu nascimento, tudo é muito incerto. E como patrono da Irlanda, outros itens relacionados a ele são ovacionados pelos irlandeses: o trevo, o verde, além de março ser o período de se saudar a primavera que está chegando (ou seja, época de renovação em todos os sentidos).
Todas essas simbologias acompanharam os nativos pelo mundo afora. Tanto que a St. Patrick’s Parade não nasceu na Irlanda, mas nos Estados Unidos.
Um dos períodos mais difíceis da Irlanda, a Great Irish Famine (Grande Fome), quando os irlandeses abandonaram a Ilha para fugir da fome que alastrava o país, eles emigraram e carregaram consigo a fé cristã e todas as simbologias associadas a São Patrício.
A cada mês de março, no dia de São Patrício, era a oportunidade máxima de gritar aos quatro cantos o orgulho de ser irlandês. Imagine, você, o que isso representava!
Os irlandeses saíam às ruas vestidos de verde e celebrando o St. Patrick’s Day. A culinária, a música, a dança e, claro, a bebida, fechavam o pacote. E o detalhe: a alegria dos irlandeses era tanta que eles disseminaram a ideia de que no dia de São Patrício todos viram irlandeses.
Daí, para virar carnaval — ou melhor, Parada — foi só um pulo.
O primeiro desfile do Dia de São Patrício foi realizado em 17 de março de 1601, em uma colônia espanhola nos Estados Unidos onde havia um vigário irlandês, Ricardo Artur.
Mais de um século depois, foram os soldados irlandeses que serviam nas forças armadas inglesas que marcharam em Boston, em 1737, e em Nova York, em 1762, celebrando São Patrício.
Com o passar dos anos, os desfiles se tornaram uma demonstração de unidade e força dos imigrantes irlandeses-americanos e a celebração popular da herança irlandesa.
A festa se tornou global em 1995, quando o governo irlandês iniciou uma campanha em grande escala para divulgar o St. Patrick’s Day como uma forma de impulsionar o turismo e mostrar os muitos encantos da Irlanda para o resto do mundo.
E assim chegamos à comemoração que conhecemos hoje.
No Canadá, Austrália e Estados Unidos, onde há muitos imigrantes irlandeses, o Dia de São Patrício é comemorado oficialmente com direito a uma decoração nas escolas e, até, nos córregos e rios, que costumam ganhar o tom verde irlandês.
Assim, diversas partes do mundo celebram a data, inclusive no Brasil, quando os pubs costumam organizar uma programação especial no mês de março.
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Para quem quer conhecer mais sobre São Patrício e sobre a história irlandesa, aí vão duas recomendações de leitura:
Agora que você já entendeu mais sobra a história de São Patrício, padroeiro da Irlanda, que tal ficar também por dentro de como fazer um intercâmbio no país?.
Você pode encontrar dicas ótimas no nosso guia especial sobre o assunto.
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