Por Fabiano de Araújo
Já dizia a música… “Saudade palavra triste, quando se perde um grande amor…”. Na verdade eu não perdi um grande amor, não que eu me lembre, mas eu deixei grandes amores no Brasil para vir pra cá, do outro lado do atlântico. Deixei pais, irmão, família, amigos e por aÍ vai.
O problema é que agora, com o passar dos meses de intercâmbio, começa a bater aquela dorzinha, aquele aperto no coração, ou seja, é a famosa saudade de todos.
Sempre ouvi dizer que a saudade tem um momento certo de chegar: a famosa crise dos 3 meses! Acho que isso acontece mesmo com os mais jovens, porque no início é tanta novidade pra eles, tanta coisa para descobrir… É como se eles estivessem presos no Brasil, na barra da saia dos pais, e quando chegam aqui a liberdade é tanta que eles nem notam. A ficha só começa a cair quando você vê que a grana começou a ficar curta e a ligação para os pais passa a ser inevitável. É isso ou ir à luta por trabalho.
No nosso caso a coisa é bem diferente. Não temos idade para ligar para nossos pais e dizer “acabou meu money, tem como me mandar mais?”. Não, a gente tem que se virar e, como nem tudo são flores, com o passar dos meses começa a bater uma solidão, uma saudade da família com quem a gente sempre conta nas piores horas, dos amigos de longa data e até mesmo do nosso cantinho.
Saudade é uma coisa de brasileiro. Gringo nenhum entende quando falamos “que saudade de casa” ou “que saudade do Brasil”. Pra eles, que demostram tanto desapego ao que tem, fica difícil tentar explicar. Já nós, que somos muito apegados uns aos outros, é complicado dizer que não sente saudade de alguém que ficou no Brasil, e isso não é coisa de jovem ou adulto, isso é da nossa natureza, do nosso jeito brasileiro de ser.
Nessas horas o que mais me conforta é saber que todos torcem por mim e que dia após dia me mandam mensagens positivas. Com isso a gente vai recarregando a nossa bateria para vencer os desafios do nosso intercâmbio.
Como estamos todos no mesmo barco, posso dizer que muitos passam por essa fase, e quando a gente vê alguém cabisbaixo ou quando alguém nos vê para baixo, são os novos amigos brasileiros que nos fazem erguer a cabeça e fazer a tristeza ir embora.
Eu tive o privilégio de fazer grandes amizades, e conheci muitas pessoas bacanas que acabaram se tornando uma nova família, a “família do intercâmbio”, onde um acalenta o outro, dá conselho, brinca, abraça e até mesmo conforta quando essa dorzinha bate. Ela não vai embora, mas ameniza e muito. E isso já é um bom sinal, porque nem só de festa vive o intercambista, seja ele um jovem ou quarentão.
Esse texto faz parte da série Dublin para Maiores, assinado pelo nosso colunista Fabiano de Araújo e conta a perspectiva daqueles que decidem fazer intercâmbio na maturidade.
Fabiano de Araújo é gaúcho de carteirinha, mas catarinense de coração. Formado em Comércio Exterior, trabalhou 10 anos com exportação. Um belo dia resolveu largar tudo e encarar um intercambio próximo dos 40 anos, como forma de entrar na melhor idade realizando sonhos. Amante por viagens inesperadas está sempre com uma mochila pronta para encarar desafios. Resolveu compartilhar de sua aventura com os demais por acreditar que nunca é tarde para realizar sonhos.
Revisado por Tarcisio Junior
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