Será que fugir dos brasileiros é mesmo a melhor opção?

Seja sincero, quais as primeiras frases que você ouve após comentar que fará um intercâmbio na Irlanda? Que tal “Tente não ficar somente com brasileiros ao seu redor” ou “Lá tem muito brasileiro, cuidado!”. Estou errada?

Primeiramente vamos quebrar este mito. Segundo dados do Central Estatistic Office-CSO (2018), o censo irlandês, nós brasileiros, estamos longe de ser o grupo de estrangeiros em maior número no país.

Censo 2016 mostra que a Irlanda não está tão cheia de brasileiros como parece. Fonte: CSO

Segundo os dados do último censo em 2016, os brasileiros aparecem na sexta posição no ranking de não irlandeses a viver na Irlanda. São os poloneses, os ingleses e o povo da Lituânia que estão aqui em maior número. Porém, é bem fácil explicar porque muitos acham que os brasileiros estão dominando a Ilha. De fato, segundo mostram os dados do CSO, os Brasileiros tendem a se concentrar em Dublin, por isso, ao chegar aqui e escutar tanto Português nas ruas, você terá a impressão de que nós estamos tomando o país!

Representamos 67% dos não europeus vivendo na Capital. Ou seja, é muito brasileiro concentrado em Dublin. As demais nacionalidades em maior número tem preferido rumar para o interior e isso é bem fácil explicar! O maior interesse dos brasileiros na Irlanda ainda é Estudar Inglês, e as escolas se concentram na capital, assim como também na região central. E assim está esclarecido o Mito. Brazileiro = escola de idiomas = centro de Dublin.

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Mas, será que ficar longe dos brazucas é realmente uma boa ideia para quem chega por aqui? Quais os prós e contras?

Prós

Ta perdido?

Chegou na Ilha, seu inglês está pior do que imaginava e não entendeu muito bem todo o trâmite de abrir conta no banco, tirar o Irish Residence Permit- IRP, ou se sente inseguro em como começar a busca por um emprego? Muito provavelmente um brasileiro, que seja flatmate, seu colega de classe ou até um desconhecido no Facebook, te dará uma mãozinha. Duvida? Entre nas comunidades nas redes sociais e veja quantos brasileiros postam vagas lá, pura e simplesmente para ajudar alguém que, provavelmente, não conhecerá pessoalmente. Eu mesma passei por isso e consegui minha vaga de au pair através de uma das indicações publicadas.

Exemplos de publicação no Classificados Dublin.

Economia alimentar

Almoço/jantar comunitários são populares entre os brasileiros. Créditos: Mfile.

 

Por se tratar da mesma cultura, ao fazer amizade com flatmates brasileiros, muitas vezes acabamos economizando com comida. Como? Fazendo os famosos almoços/jantares comunitários. Geralmente, cada um cede um ingrediente e o banquete está feito! Sim, podemos fazer isso morando com pessoas de qualquer nacionalidade, mas com os conterrâneos a probabilidade de dar certo é maior, uma vez que, culturalmente, os gostos tendem a ser bem parecidos.

Convivência não é fácil

Morar com desconhecidos, sejam brasileiros ou não é sempre um desafio. Créditos: Pixabay.

Se já temos problemas vivendo com nossa própria família no Brasil, entenda que viver com pessoas de países culturalmente muito diferentes do nosso pode ser algo bem complicado de se adaptar. Seja por questões de higiene ou as diversas formas de comportamento, geralmente a convivência tende a ser melhor com os “brazucas”, por falarmos a mesma língua e, muitas vezes, termos gostos, hábitos e pensamentos parecidos.

Família ê, família ah, FAMÍLIA!

Meu intercâmbio foi melhor por causa deles, minha Irish Family. Todos “brazucas”.

Por mais fechado que você esteja sobre a ideia de conhecer brasileiros, saiba que você pode se surpreender. Em muitos e muitos casos, eles serão os primeiros a se tornar sua nova família por aqui (em alguns casos, a única). Naquele momento de aperto ou no momento de felicidade que você precisa compartilhar, eles estarão ao seu lado. E acredite, momentos inesquecíveis, dos mais simples aos mais complexos, serão lembrados pra sempre.

Contras

Inglês

Do you speak english? Créditos: Pixabay.

É, meu amigo, tudo tem seu lado negativo, e viver com brasileiros ou só sair com eles não ajuda nada na evolução do seu inglês. Não que a escola e o emprego não ajudem, complementando com estrangeiros que conhecer ao longo do caminho, mas se o seu foco é sair com o inglês realmente fluente, andar somente com brasileiros pode te atrapalhar um pouco.

Malandragem

Infelizmente, ouvimos muitas histórias de brasileiros que sacanearam outros brasileiros. Seja com sub-locação, repasse de acomodação com problemas ou até a venda de produtos falsos. A verdade é que malandragem existe em qualquer lugar do mundo e com pessoas de qualquer nacionalidade. Então prepare-se e fique antenado. Tente conhecer melhor as pessoas com quem for negociar, sua roda de amigos e pessoas que negociaram com eles anteriormente. Não caia na besteira de achar que, apenas por se tratar de brasileiro, dá pra confiar cegamente.

Cultura

Créditos: Pixabay.

Sim, fazer um intercâmbio também significa conhecer e ter a possibilidade de vivenciar novas culturas. Se a opção for ficar rodeado somente de conterrâneos, a probabilidade de voltar ao Brasil sem saber nada da cultura Irish é muito grande. E pode acreditar que ela é muito mais do que tomar litros e litros de Guinness. O modo de se expressar e a tradição que eles se orgulham tanto podem, sim, ser um diferencial na sua experiência de intercâmbio – se você se permitir conhecer.

Zona de conforto

Não adianta, sou a primeira a falar que viver com brasileiros não é ruim, pois tive experiências maravilhosas, mas que isso te faz ficar um pouco mais na sua zona de conforto, isso é verdade. E a tendência de todo e qualquer ser humano é essa. Só que, ao largar tudo no Brasil e vir para cá, temos que ter em mente que sair do conforto e se arriscar é parte essencial para mudanças que muitas vezes nem identificamos que precisamos. Ao nos misturarmos com pessoas do mundo todo, colocamos nossas crenças e valores na mesa e temos que reavaliar tudo constantemente. Quer melhor aprendizado que esse?

Revisado por Tarcísio Junior
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Carol Braziel

Formada em Relações Públicas e pós-graduada em MKT pela ESPM|Brasil. Com mais de seis anos de experiência em MKT, decidiu vivenciar o sonho de morar na Europa, mais precisamente na terra dos Leprechauns. Apaixonada incurável por viagens, tem como vício a leitura e pesquisa sobre destinos, curiosidades e roteiros de viagens pelo mundo.

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