Sentir-se vazio precisa ser algo ruim sempre? Faz pouco mais de dois meses que voltei para a minha casa, para o Brasil. Confesso que a característica saudade que todos os intercambistas que voltaram para o seu país tanto falam e a sensação de não estar exatamente no lugar certo demoram a chegar, mas chegam sim… é inevitável.
Assim como precisamos nos preparar para partir, precisamos (e muito) nos preparar para voltar. As primeiras semanas após o retorno ao Brasil são meio confusas. Você se sente estranho, ainda não consegue assimilar que está em casa, que está com a família, que não precisa mais falar inglês, que o sol não vai sumir de uma hora pra outra. Tudo ainda é novidade e aquela vida que você levou durante o intercâmbio vai, aos poucos, tornando-se algo distante.
Só que as primeiras semanas passam. Você reencontra familiares e amigos, come todas as comidas brasileiras que tanto sonhou e se readapta ao antigo lar. Arruma um emprego, volta a ter uma rotina e, quando menos espera, tudo já está do jeito que era antes de você ir embora. Será mesmo?
Por quase dois meses após a minha volta, confesso que não senti tanta saudade da vida na Irlanda. Não porque era ruim, muito pelo contrário, mas porque eu estava muito feliz e certa da decisão que eu tinha tomado, que foi a de voltar. Mas, sem nenhum motivo específico, a saudade começou a apertar após esse período.
O frio, a rotina, a escola, o trabalho, os amigos, o povo irlandês, a obrigação de falar inglês sempre, a liberdade e possibilidade de poder viajar para vários países, a qualidade de vida, o preço dos produtos no supermercado e em várias lojas de roupas e calçados, a segurança, a gentileza, os pubs, as cervejas e até a chuva e o vento (nisso, quase nem eu acreditei) passaram a me fazer uma falta imensa. E não foi porque aqui no Brasil tudo isso é diferente (apesar de realmente ser). Acredito que senti isso simplesmente porque esse tipo de experiência só se vive uma vez. E eu já vivi, e agora acabou.
É claro que sempre haverá a possibilidade de voltar para a Irlanda, seja para morar ou visitar, ou fazer um intercâmbio em outro país. No entanto, nada será como essa experiência que acabei de viver. Pode ser que seja melhor? Claro que pode! Mas nunca será igual.
Antes de seguir para o intercâmbio, eu só havia saído do Brasil uma vez. Nunca havia viajado para outro lugar que não fosse a América do Sul e nunca tinha, de fato, utilizado o inglês diariamente. Até então, meu passaporte estava em branco, eu nunca havia feito amigos de outros países e a minha noção de morar sozinha, sem nenhum familiar por perto, e cuidar de todas as tarefas domésticas, era quase nula. Tudo isso mudou após a Irlanda. Foi na Ilha Esmeralda que cresci de verdade e comecei a caminhar rumo a quem eu realmente quero me tornar. É por isso que sei que essa experiência foi realmente única e que as próximas que estão por vir podem ser maravilhosas, mas dificilmente serão tão intensas quanto.
Por este motivo, acredito que se sentir vazio não precisa ser, necessariamente, algo ruim. Hoje, sinto-me vazia de novidades diárias, de desafios que preciso enfrentar sozinha, de estar em outro país vivendo experiências engrandecedoras, de viver com tanta frequência momentos que marcarão a minha vida. Por outro lado, sinto-me repleta de alegria, pois tive a chance de viver algo que sempre sonhei. E sei que, se sinto esse vazio, é porque tenho muitas lembranças incríveis marcadas na memória e no coração. Nesse misto, acabo me apegando a cada um dos extremos sentimentos em situações diferentes do dia a dia, mas a realidade sempre surge assim que percebo que me apoiar no passado, por melhor que ele tenha sido, não me ajudará a seguir em frente.
Ser feliz com as próprias escolhas e aceitar que nem todas estarão 100% certas o tempo todo, é um dos lemas que levo para a vida desde que decidi viver um intercâmbio. É por isso que, apesar da saudade que bate vez ou outra e da vontade de voltar no tempo, eu escolho estar exatamente onde estou hoje e encontrar felicidade nisso, sabendo que a Irlanda e o meu intercambio serão, para sempre, duas das melhores escolhas que já fiz.
Sobre a autora:
Catarinense, Ana Carolina Bernardes tem 23 anos, é jornalista e escolheu a Irlanda para iniciar a sua primeira grande aventura. Adora cozinhar, conhecer novos lugares, culturas e criar histórias. Tem o sonho de, algum dia, ser uma escritora e poder contar para as pessoas um pouquinho daquilo que ela viveu pelo mundo.
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