Há muitas histórias sobre ir para o intercâmbio, mas poucos falam sobre a volta, sobre o final do sonho, sobre o próximo passo ao retornar ao Brasil.
Conheci muitas pessoas ao longo dos 8 intensos meses de intercâmbio em Dublin — algumas que desistiram no meio caminho porque não conseguiram se adaptar ou porque a saudade era grande demais. Muitas outras que fariam de tudo para que ele nunca terminasse.
Eu, particularmente, fiquei dividida. No começo do intercâmbio, não tinha plano algum de renovar meu visto, mas, conforme o final foi chegando e o desespero foi batendo, eu percebi que não me via mais no Brasil. Porém, por decisões do começo da viagem, a volta era inevitável. É clichê, mas eu tenho que dizer que, quando você passa por uma experiência assim, você nunca volta do mesmo jeito. Quando você se depara com a sua antiga realidade, da mesma forma que você a deixou, talvez também tenha a sensação que você não cabe mais ali.
Você percebe que não fez tanta falta assim e que as pessoas não estão mais tão interessadas em suas aventuras, mas, sim, se preocupam com quanto custou tudo isso. Já passei por inúmeras situações desde que voltei, e em que qualquer menção da minha viagem eu escutava comentários como “que rica” ou uma virada de olhos não tão discreta assim.
Talvez minha viagem não tenha custado tanto quanto você imagina, amigo, mas tenho certeza de que foi menos que seu carro novo. Mas não é sobre isso que eu quero falar, porque não importa. Cada um tem suas prioridades, e quem sou eu para julgar alguém? Mas ninguém se importou em ver todo o tempo trabalhado, os longos 12 meses pagando as parcelas do pacote, o se vira nos 30 no final pra dar conta de comprar todos os euros — e, até mesmo, vender suas coisas pra garantir que o dinheiro fosse suficiente.
As pessoas parecem ter dificuldade de aceitar ou entender que você voltou diferente, que você não é mais a mesma pessoa de 8 meses atrás, que seu universo se expandiu consideravelmente — e é isso que te faz uma pessoa mais rica sim, mas não financeiramente.
Então, caros amigos, quando eu menciono uma de minhas histórias, tá tudo bem se você não quiser ouvir, mas aqui não tem mais espaço para julgamentos. Eu falo sobre isso porque foi uma realidade que eu vivi, que fez parte da minha vida. Se entre 100 pessoas eu inspirar uma a fazer o mesmo, já é o suficiente pra mim. Eu aprendi tanta coisa incrível que é inevitável não querer compartilhar.
A sensação de ser um “estranho no ninho” é constante. Você já volta planejando outras viagens… e tudo bem. Está tudo bem perceber que você não pertence mais a um só lugar, tudo bem perceber que talvez você precise se rodear de novas pessoas, tudo bem não estar feliz… mas não está tudo bem aceitar se diminuir para caber num mundo ao qual você não pertence mais.
O que quero dizer é só que vai melhorar — sempre melhora. A saudade da Ilha Esmeralda bate forte vez ou outra, mas as pessoas que você conheceu nessas andanças só estão a uma viagem de distância — e do lado de cá também terá muita gente para te fazer sorrir.
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