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Thiago Oliveira: uma história de superação e força de vontade

Todos nós sabemos o quanto é difícil se adaptar em um país bem diferente do nosso. E se torna ainda mais se alguns percalços acontecerem no meio do caminho. Quantos de nós brasileiros já desistiram do intercâmbio aqui na Irlanda no meio da jornada? Ou por que sentiu saudades da família ou simplesmente não se encaixou no estilo de vida europeu? Eu já ouvi uma história de desistência na primeira semana de Irlanda.

Mas também existem aqueles que conseguem vencer todas as barreiras de uma nova vida e seguir em frente na realização dos seus sonhos. Conheça, então, a história de Thiago da Silva Oliveira, 23 anos, paulistano de Itaquera, jogador profissional de futebol que atua na equipe do West United da cidade de Galway. Thiagão Oliveira, como é conhecido, está há dois anos na Irlanda e sua trajetória no país verde pode servir de incentivo a muitos que pensam em desistir da vida longe do Brasil tão facilmente.

Adaptação em outro país não é nada fácil.@arquivo pessoal Thiago Silva

O meia atacante Thiago se profissionalizou no Brasil em 2009 quando atuava pela equipe do A.D Guarulhos. Em 2010 disputou a série B1 do Campeonato Paulista pelo ECUS, de Suzano, com destaque. Em agosto do mesmo ano recebeu o convite para tentar a sorte no futebol de Portugal. Por lá ficou somente dois meses, pois uma nova oportunidade o trouxe para a Irlanda, mais precisamente para Galway. Através de Manoel Borges, um influente brasileiro no futebol local, Thiago foi levado a fazer testes na equipe Júnior do Mervue United, onde se destacou e assinou seu primeiro contrato no país. Já no início de 2011 novos testes o levou ao Galway United, atuando junto ao também brasileiro Eduardo Dusi.

O começo não foi nada fácil pela dificuldade com a língua inglesa e o estilo de jogo viril e sem muita técnica dos irlandeses. Não bastasse esse obstáculo, Thiago teve uma discussão com o treinador da equipe que o afastou do time A e o fez treinar pelo time B. Aí começa o drama desse atleta. Quando ele vinha fazendo belas apresentações pelo chamado “time de baixo” e recebendo elogios pelo seu desempenho um problema no púbis o tirou dos gramados por quatro meses.

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Muito mais que não atuar, Thiago ficaria sem receber salários. “Foi onde entrei em desespero. O clube não iria me pagar sem jogar e pensei muitas e muitas vezes em desistir e voltar para casa. Com muitas conversas com meu pai (Valter Antonio) ele me aconselhou a ficar e ser guerreiro porque muitos no meu lugar desistiriam. Então fui forte, estudei em casa e aprendi a me comunicar em inglês”, conta Thiago.

O começo não foi nada fácil, para piorar tive uma discussão com o treinador da equipe que me afastou do time. © Pepedrm | Dreamstime.com

Após sua recuperação uma nova chance surge na equipe “de cima” do Galway United, pois o treinador responsável pelo seu afastamento antes da lesão havia sido demitido. Após uma semana de treinos surge a oportunidade de vestir o colete titular. Mas a sorte parecia não estar do lado de Thiago Oliveira, como ele mesmo relata: “Tive a oportunidade de ser titular em um treino de quinta feira, dia 21 de setembro de 2011. Nesse mesmo treino em uma jogada boba no meio campo, Steve Wash (companheiro de equipe) me deu um carrinho violento por trás acertando somente minha perna esquerda, onde eu acabei quebrando a fíbula e deslocando o tornozelo. Lembro como se fosse hoje. Eu chorava de dor e de angústia por saber que no dia seguinte tínhamos um jogo importante e eu teria minha chance no time titular”.

Quem gosta de esportes sabe que uma lesão dessa envergadura traz muitas consequências a um atleta e muitos meses parado. Thiago precisou fazer uma séria cirurgia para implantar uma placa de metal e mais seis parafusos. Foram dois meses e meio de gesso e cama. Após a retirada do gesso mais um mês sem colocar os pés no chão. Ao todo foram quase oito meses afastado do futebol e sem receber salários. Isso mesmo. Apesar do clube ter pago a cirurgia e a recuperação, Thiago ficou sem receber um centavo durante os meses em que esteve afastado. Para vencer mais essa barreira entra em cena uma pessoa a qual Thiagão Oliveira se rende em agradecimentos por estar sempre ao seu lado, sua namorada Aisling Nugent: “Sou muito grato a ela. Meu talismã aqui”, ressalta.

Foi difícil voltar depois que sofri a lesão, pois meu psicológico ficou abalado.© Anekoho | Dreamstime.com

Agora outro obstáculo a ser vencido: voltar a jogar sem medo. “Depois da minha lesão eu comecei a treinar com um time amador que disputa a Premier League de Galway City, o West United, onde eu assinei e comecei do zero de novo. Foi muito difícil para mim, pois meu psicológico estava abalado. Eu tirava o pé em todas as divididas e imaginava que nunca mais seria o mesmo Thiagão de sempre”, confessa o paulistano.

Como está esse brasileiro hoje? Ele mesmo diz: “Hoje em dia, após sete meses de treinos, estou 100% de novo, jogando jogos de muita pegada e difíceis por se tratar de time amador. Eles (os jogadores) são muito fortes e bem fisicamente. Nos últimos 4 jogos fiz 7 gols e estou vivendo meu melhor momento aqui, mesmo sendo em um time amador”, conta empolgado. Nesse meio tempo, Thiago também aproveitou para disputar o primeiro campeonato de futsal em Galway e sua equipe foi vice-campeã e ele eleito o melhor jogador campeonato.

Meu sonho é de um dia poder ir para um grande time.© Miroslav Jacimovic | Dreamstime.com

Para o início de 2013 Thiago espera com confiança que ele possa voltar a vitrine profissional do futebol irlandês. As equipes do Salthill Devon e Mervue United se interessam pelo futebol do brasileiro. Ele não descarta atuar por uma equipe brasileira caso isso aconteça um dia, mas seu foco continua sendo o futebol europeu. “Meu sonho é de um dia poder ir para Espanha, França, Itália ou até mesmo Inglaterra para poder correr em um grande time. Mas para isso tenho que continuar degrau por degrau e trabalhando duro como tem sido nesses últimos meses”, completa.

Após dramas, dores e obstáculos, Thiago da Silva Oliveira não se esquece daquelas pessoas que estiveram ao seu lado durantes esses dois anos e pede para que eu cite seus pais, o Sr. Valter Antonio e Sra. Monica Maria, que apoiaram sua permanência na Irlanda e não o fez desistir em meio a tudo o que passou. E também sua namorada, Aisling Nugent, pela cumplicidade e dedicação ao seu lado.

Finalizo com duas perguntas que usei no início. Quantos de nós brasileiros já desistiram do intercâmbio aqui na Irlanda no meio da jornada? Porque sentiu saudades da família ou simplesmente não se encaixou no estilo de vida europeu? Após a história de Thiago Oliveira podemos refletir em algumas decisões antes de tomá-las e sermos fortes e vencedores também.

Por Carlos Eduardo Fernandes

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