Assim como em todas as partes do mundo, pessoas transgêneras (trans) na Irlanda enfrentam problemas por serem quem são.
Mas com cada vez mais visibilidade nos meios de comunicação, principalmente na internet, e com a luta da comunidade LGBTQ+ (onde o “T” significa justamente transgêneros) o preconceito e a violência contra esse grupo parece ter diminuído no país.
Além disso, com a possibilidade de mudar o nome social, que se tornou lei há seis anos, pessoas transgêneras (trans) na Irlanda estão cada vez mais se sentindo seguras.
Vamos falar mais sobre esse assunto? Acompanhe!
Desde 2015, transexuais podem alterar seus documentos na Irlanda. Ou seja, mudar seu nome para outro, masculino ou feminino, independentemente do sexo biológico.
A lei atual existe depois de uma luta que foi iniciada por Lydia Foy, em 2002, mulher trans irlandesa, que travou uma batalha no país desde 1992, quando fez a cirurgia de redesignação sexual. Foram mais de 20 anos até que pudesse, finalmente, ter seus documentos alterados.
Foy tentou um processo em 2002, que foi negado pelo Estado irlandês. A irlandesa precisou apelar para a Corte dos Direitos Humanos da Europa, que, em 2007, considerou que a Irlanda não havia respeitado os direitos de Foy diante da Convenção Europeia de Direitos Humanos. O governo recorreu, mas desistiu em 2010.
Somente em 15 de julho de 2015, a Irlanda aprovou a Lei de Reconhecimento de Gênero, que permite mudanças legais sem a exigência de intervenção médica ou avaliação pelo Estado. Hoje, a Irlanda é uma das quatro jurisdições legais no mundo onde as pessoas podem mudar legalmente o gênero por meio da autodeterminação.
No Brasil, apenas em 2018 o STF autorizou que pessoas trans pudessem mudar o nome em seus registros por autodeterminação. Porém, não existe o apoio de uma lei, como na Irlanda, o que fortaleceria essa decisão.
Desde que a lei de 2015 foi aprovada até 2017, 230 irlandeses receberam certificados de reconhecimento de gênero. Parece pouco, mas em uma ilha pequena, com cerca de 4 milhões de habitantes, o número é significativo, imaginando que foram apenas dois anos.
O ano de 2015 também foi importante para a Irlanda, já que um referendo aprovou o casamento gay no país. Isso mostra que a Irlanda está a caminho, sim, de se transformar em um país moderno. Apesar de existirem casos de homofobia, há espaço e respeito pela comunidade no geral.
É claro que, assim como em todo o mundo, a pessoa trans, mesmo na Irlanda, é a que sofre mais preconceito dentro da comunidade LGBTQ. A transfobia na Irlanda não é reconhecida como crime, mas entra no chamado crime de ódio. As instituições que tratam do tema transgênero não conseguem identificar no Estado registros de violência contra a pessoa trans.
Um estudo feito pela TENI (Rede de Igualdade Transgênera da Irlanda) mostra que nem mesmo a Garda ou CSO, centro de estatísticas da Irlanda, contam com informações concretas sobre pessoas trans. O próprio CSO, por exemplo, não habilita que pessoas trans se identifiquem como tal em formulários de pesquisa, mas estuda fazer isso no próximo Censo, em 2021.
A série documental My Trans Life, da RTÉ, mostra a vida de cinco irlandeses transgêneros que enfrentam os desafios do dia a dia na Irlanda contra o preconceito. Entre os episódios, a dificuldade em enfrentar as famílias, muitas vezes religiosas e tradicionais, além da sociedade como um todo.
A irlandesa Bella Turner conversou com o edublin para contar sua experiência como mulher transexual na Irlanda. Ela afirmou que se sente muito sortuda por ter nascido na Irlanda sendo trans.
“Acho que é um lugar que já percorreu um longo caminho em termos de aceitação em pouco tempo. Na maioria das vezes, acho que as pessoas trans geralmente têm as mesmas oportunidades que todos os outros”, ressaltou.
Na média, segundo ela, a maioria dos irlandeses apóiam pessoas transexuais.
“Eu ainda não encontrei alguém que fosse extremamente transfóbico e que eu sentisse que minha segurança estava em risco. É claro que muitas vezes há comentários objetivantes e misóginos (principalmente de homens cis heterossexuais). Mas acho que essa é uma parte infeliz de ser mulher e não é exclusiva da experiência trans”, disse.
Comparativamente falando, segundo Bella, por ter emprego, moradia e educação, as pessoas trans na Irlanda podem viver uma vida normal. Para ela, a principal barreira é na questão da saúde.
“Uma coisa que eu gostaria que mudasse é que as pessoas pudessem ter a mente mais aberta em relação a relacionamentos públicos com pessoas trans. Freqüentemente, as mulheres trans, em particular, são usadas por seus corpos e mantidas em segredo da sociedade. Isso precisa mudar.”
Bella conta que teve o apoio incondicional da mãe para realizar a GCS (Genital Confirmation Surgery — cirurgia de confirmação sexual).
“Ela me acompanhou em todas as consultas médicas desde e sempre pressionou para que me ouvissem sobre meu tratamento”, disse.
A mãe acompanhou Bella em Londres, cuidando da filha durante toda a recuperação. “Me sinto muito sortuda por tê-la! Ela é minha maior fã.”
“Acho que a Irlanda é definitivamente um lugar onde as pessoas trans brasileiras podem vir a ser elas mesmas. É um lugar onde você pode viver livremente, viver bem e viver seguro.”
A TENI, Rede de Igualdade Transgênera da Irlanda, é uma organização nacional sem fins lucrativos que apoia a comunidade trans na Ilha.
“Procuramos melhorar as condições e avançar os direitos e a igualdade das pessoas trans e suas famílias”, afirma o website da instituição.
Segundo eles, apesar do progresso significativo nos últimos anos, a Irlanda continua a ser um lugar onde é difícil para as pessoas trans levarem uma vida segura, saudável e integrada.
A TENI é dedicada a acabar com transfobia, incluindo estigma, discriminação e desigualdade.
“Trabalhamos para aumentar a conscientização na sociedade, porque com compreensão vem aceitação”, escrevem. Tratamento médico, político, educacional, além de sistemas legais, são temas de workshops promovidos pela instituição.
Leia também: Guia Irlanda LGBTQ: história de luta e conquistas, vida noturna e cultural
Na hora de sair para a balada, o intercambista brasileiro Vinícius de Almeida, 23, não pensa em vestir uma camiseta ou calça jeans, mas escolhe um vestido curto com um casaco “bafo”, além de colares e uma “make up” profissional.
Dentro do universo LGBTQ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Travestis, Transgêneros e Queer), porém, Vinícius não se considera transexual, mas gay, inserido na temática queer, já que é drag queen.
Na Irlanda há um ano e sete meses, ele se vê “como homem afeminado”. “Não encaro isso como transexual”, disse. Mesmo assim, ao vestir seu personagem drag, Vinícius acaba, de certa forma, aproximando-se do universo feminino.
“Tem gente que não aceita, tem gente que acha que a gente é aberração e tem gente que ama e respeita. Isso depende muito do ser humano”, afirmou.
Para ele, muitos irlandeses são fãs da cultura LGBTQ+ e das drag queens. Dublin, principalmente, é cosmopolita e reúne muitas culturas diferentes. “Já sofri preconceito, sim. Gosto de andar de saia, shorts curto, as pessoas olham, muitas com julgamento. Mas eu não estou nem aí. Cada dia eu tô andando mais bonita.”
Vinícius destaca a importância de drags como a Panti Bliss, que é famosa e respeitada na Irlanda, sendo muito envolvida com política. Por isso, para ele e para muitos outros gays que vivem na Irlanda, a Ilha é, sim, um destino para a comunidade LGBT.
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