Visto como um ritual de passagem que marca o início da vida universitária, o trote é um assunto que corre o mundo e acaba voltando à pauta. A polêmica relacionada à prática, que nasceu durante Idade Média na Europa, continua gerando discussões nas mais variadas línguas.
De acordo com historiadores, tudo começou lá nas primeiras universidades europeias, quando os novatos não podiam assistir aulas com os veteranos. Como medida de higiene e para evitar a proliferação de doenças, quem chegava tinha as suas roupas queimadas e os cabelos raspados.
Os hábitos mudaram, mas o trote sobreviveu a todos esses anos – e com defensores, que são aqueles que acreditam que é uma forma de interagir e manter a tradição. No entanto, as atividades impostas aos calouros vistas sob uma ótima mais cuidadosa, que identifica exageros cometidos assim como as consequências negativas, que inclusive já levaram a fatos trágicos, tem feito crescer o número de opiniões contrárias a esse rito.
Fundada em 1821, a Universidade de George Washington, maior instituição de ensino superior no Distrito de Columbia, define no próprio site as ações caracterizadas como trote e que não são toleradas por lá: “Qualquer ação ou situação criada intencionalmente, com ou sem consentimento, dentro ou fora do campus, que reflita em desconforto e humilhação aos estudantes”. Isso inclui raspar cabelo, confiscar peças de roupas e praticamente 99,9% de tudo aquilo que conhecemos do trote.
A lista de países que já precisaram se posicionar sobre os trotes universitários é grande. Veja alguns deles:
O trote é proibido nas instituições de ensino da França desde 1988, embora ainda existam indícios de que a prática continua de forma “escondida”. Para tentar inibir a ação, o governo francês estipulou uma multa de 7500 euros (cerca de 24 mil reais) para quem estiver envolvido na organização e aplicação de trotes universitários.
Em dezembro de 2013 o assunto tomou conta dos principais editoriais de Portugal e da Europa depois que um grupo de jovens desapareceu numa praia localizada em uma vila ao sul de Lisboa. As suspeitas de que os estudantes estavam participando de uma prática comum de trote por lá fez surgir duras críticas sobre o ritual. Elas atingem diretamente as universidades públicas, apontadas como incentivadoras dos trotes como forma de fortalecer uma identidade singular de quem ingressa em cursos superiores.
As principais universidades costumam preparar comemorações de boas-vindas aos novos estudantes. Práticas de trote tradicionais passaram a ser desencorajadas dando lugar a ações culturais.
Com um passado de trotes polêmicos que resultou na morte de uma estudante em 2007, as instituições de ensino da Suécia adotaram regras rígidas para evitar principalmente embriaguez e assédio sexual.
O período em que os novos alunos são recepcionados é utilizado para promover campanhas sobre o uso de preservativos e uso moderado de álcool. As confraternizações incluem encontros em pubs, mas as universidades mantêm o alerta para os calouros.
Embora o trote seja proibido nas universidades, a preocupação continua em relação aos trotes passados por grupos mesmo sem autorização. Existem relatos de que algumas das chamadas “irmandades” e “fraternidades” ainda aplicam o trote sob a condição de aceitação de novos integrantes.
Apesar de ainda ser realizado em muitos cursos brasileiros, o país também apresenta iniciativas de instituições e dos próprios alunos que incentivam o chamado trote solidário. Nas ações os calouros são convidados a doar sangue e realizar trabalhos voluntários em benefício da comunidade.
Este texto foi revisado por Camilla Gómez em abril/2014.
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