U-Curve: você já ouviu falar nela?

Todos os dias, milhares de pessoas desembarcam nos aeroportos com suas malas carregadas de expectativas que, para alguns, podem durar desde meses até anos. Para outros, esse sentimento pode ser interrompido pelo regresso antes do tempo previsto. Não é de hoje que morar em outro país exige grande capacidade de adaptação.

Na década de 50, o sociólogo norueguês Sverre Lysgaard divulgou um estudo sobre os estágios de quem passa a viver em uma nova cultura. Sua hipótese foi batizada de “U-Curve”.

Você já conhecia a U-Curve?

O gráfico acima não foi criado pelo sociólogo, mas elucida a sua hipótese. De acordo com a “U-Curve”, podemos passar pelas seguintes fases ao viver em um novo contexto cultural:

1. Honeymoon / “Lua de mel”

Esse é o nome da fase quando estamos animados com as novidades que a nova cultura começa a apresentar. Nesse período, somos movidos pelas diversas oportunidades que passamos a vislumbrar.

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2. Crisis / “Crise”

É a fase na qual sentimos o choque cultural. Ela é marcada por algumas decepções e frustrações, que acabam gerando uma confusão de sentimentos. Isso acontece quando percebemos que nem tudo é perfeito. No gráfico, essa fase é o momento mais baixo do grau de satisfação do indivíduo.

3. Recovery / “Recuperação”

Como o próprio nome sugere, esse é o estágio em que começamos a olhar as possibilidades de forma mais positiva e confortável. A sensação é de estarmos recuperando o controle dos sentimentos e de estarmos nos adaptando à rotina. O processo de assimilação da nova realidade é mais bem compreendido pelo sujeito que está vivendo uma imersão cultural.

4. Adjustment / “Ajuste”

Adjustment é a fase final apresentada no gráfico e culmina com o período de maior satisfação. É nessa altura que nos sentimos integrados ao ponto de desempenharmos tarefas no novo cenário sem que tudo pareça muito pesado. Nessa fase, pode ocorrer o que é chamado de “adoção de dupla identidade cultural”.

A hipótese trabalhada por Lysgaard motivou estudos posteriores que revelaram desdobramentos ainda mais complexos. Na prática, isso quer dizer que apenas 10% das pessoas passam por todos esses estágios exatamente na mesma ordem. Fatores como o grau de diferenças culturais, personalidade e motivações pessoais contribuem para que o gráfico oscile drasticamente.

Tudo isso, inclusive, pode ser o motivo de um intercâmbio ser algo tão particular. Duas pessoas podem ter visões completamente diferentes sobre a experiência no mesmo país ou numa mesma cidade. Além disso, a mesma pessoa pode, ainda, colocar em dúvida a própria ideia sobre o que está vivendo quando se encontra num momento de oscilação de sentimentos.

Para Daliane Leite, a experiência de morar em outra cultura é intensa: é 8 ou 80. Foto: Arquivo Pessoal

“Chegamos empolgados e, com o passar dos dias, vamos aprendendo a lidar com o inesperado, com a convivência, que não é fácil, e com a saudade, que também não é. Quando começamos a viajar e a conhecer outras culturas, vem de novo aquela empolgação. Nesses quase dois anos em que estou na Irlanda, já senti emoções muito loucas e intensas. É 8 ou 80!”, conta Daliane Leite, 42 anos.

Para ela, estar longe da família é um dos principais fatores que tornam os sentimentos tão inconstantes nessa adaptação. Por isso, é fundamental aprender a lidar com isso para se sentir bem.

De volta ao Brasil, Nelson de Sousa conseguiu avaliar os estágios da U-Curve com mais calma. Foto: Arquivo Pessoal

Depois de retornar ao Brasil, o professor de inglês Nelson de Sousa, 25 anos, consegue avaliar melhor como passou por esse processo:

“Eu imaginava que fosse chegar todo empolgado, mas que dentro de um mês ou dois eu já cairia na realidade. E foi exatamente o que aconteceu, até porque a grana foi acabando, e eu precisei correr atrás de emprego. Eu acho que, quando a gente está longe dos nossos amigos e familiares, ficamos mais sensíveis e propensos a ter esses altos e baixos, já que ficamos sem muito suporte.”

Entender que, em qualquer lugar do mundo, as pessoas estão sujeitas a momentos de empolgação e de crise foi fundamental para Patrícia Soares, em Dublin há mais de três anos.

“A minha adaptação foi melhor do que eu esperava, mas isso exigiu paciência. Até hoje, eu lembro dos motivos que me fizeram morar fora. Não podemos é cair em um ciclo de reclamar de tudo. Todos os lugares têm coisas boas e ruins. Toda vez em que noto algo estar me incomodando mais do que o normal, eu tento fazer uma análise das razões. Posso dizer que me adaptei muito bem e estou feliz com a minha escolha. Sem contar que, hoje em dia, temos a Internet — imagino que a adaptação antes disso era muito mais difícil.”

E você, já passou por isso? Queremos saber como você lida com as suas emoções durante o intercâmbio. Compartilhe sua opinião!

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