Um ano de Intercâmbio
9 anos atrás
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Os desafios daqueles que decidem encarar o intercâmbio na maturidade
Por Fabiano de Araújo
Após o relato da minha primeira semana em Dublin, nada mais justo do que falar sobre o que aconteceu um ano após a minha chegada à terra dos Leprechauns, afinal de contas foram tantas coisas vividas nesse período que eu nem acredito que consegui chegar até aquí.
Há cerca de um ano cheguei a essa terra, chamada carinhosamente de Ilha Esmeralda, e por incrível que pareça é bem assim que ela se parece, uma esmeralda, tamanha a quantidade de tons verde que podemos encontrar quando resolvemos viajar pelo país – e olhe, eu já andei por essas bandas!
Mas não é só de verde que ela é composta. Do outono para o inverno, período em que desembarquei, encontramos outros tipos de cores. As folhas caídas no chão chamam a atenção pela diversidade de tons, que variavam entre o amarelo e o vermelho, marcando bem essas estações. Logo em seguida vem cor que predominou boa parte do meu intercâmbio, o acinzentado do céu nos dias de inverno, que são curtos e tristes, com noites longas e frias.
Mesmo com tanto frio, chuva e sensações térmicas baixas, toda vez que alguém me questiona se eu estou gostando disso tudo, eu sempre digo que o que eu vivi nesse último ano não representa nem a metade do que vivi e enfrentei toda a minha vida.
Foram tantas experiências que às vezes fico me perguntando como foi que eu consegui chegar até aqui. Parece brincadeira, mas não dá para acreditar que já se passou tanto tempo – e boa parte dessas experiências foram relatadas aqui no E-Dublin. Foi uma completa imersão a uma nova rotina, um novo idioma, novos amigos e um novo clima.
Já se passaram quatro estações desde que cheguei, Outono, Inverno, Primavera e agora o Verão gelado, que começa a dar tchau. Muitos desafios foram conquistados: a vergonha em tentar me comunicar, o medo de não ser compreendido e o receio de ser pré-julgado.
Os primeiros dias de aula, a busca por uma moradia, a saudade de casa, amigos reais que viraram virtuais e amigos virtuais que se transformaram em família. Muitas pessoas eu conheci e boa parte delas até já se foi, de volta para o Brasil.
Fazer um intercâmbio é aprender, acima de tudo, a dar adeus. Adeus ao seu orgulho, ao seu preconceito, à sua individualidade e, principalmente, às pessoas queridas que, por força do destino, voltaram para o nosso país, deixando apenas as boas lembranças de um período que nunca mais irá voltar.
De repente me vejo vivenciando as etapas da “U-Curve”, um texto que li antes de embarcar e recomendo para quem quer encarar esse desafio.
Após um período turbulento, com o fim das aulas e a busca incessante por trabalho, começo a notar que nós somos responsáveis pelo nosso próprio destino e que o mundo conspira ao nosso favor quando acreditamos em nós mesmos. Como num passe de mágica, a loucura da busca incessante por trabalho deu lugar às desculpas por não poder mais aceitar vagas que apareciam. Ou seja, a gente colhe o que planta, mas isso é assunto para outro artigo.
No momento estou vivendo a quarta fase da “U-Curve”, o “Adjustment”, e tentando entender por que em certos momentos me sinto com a “adoção de dupla identidade cultural”, já que não consigo mais me ver vivendo apenas com a minha cultura materna trazida do Brasil.
Hoje eu reservo um tempo para o chá do fim da tarde, já não preciso olhar para os dois lados para saber de onde vem o carro e que o correto é atravessar sempre na faixa de segurança, somente após o sinal abrir, e sei que bater papo com os amigos nativos é a mesma coisa que bater papo com os amigos do Brasil, já que agora a gente se entende.
Um novo ciclo se inicia! O que o futuro me reserva, eu, literalmente, ainda não sei, mas espero estar preparado para ele, afinal de contas, qual a vantagem de uma vida bem vivida se não tivermos desafios para conquistar?
Esse texto faz parte da série Dublin para Maiores, assinado pelo nosso colunista Fabiano de Araújo e conta a perspectiva daqueles que decidem fazer intercâmbio na maturidade.
Sobre o autor:
Fabiano de Araújo é gaúcho de carteirinha, mas catarinense de coração. Formado em Comércio Exterior, trabalhou 10 anos com exportação. Um belo dia resolveu largar tudo e encarar um intercambio próximo dos 40 anos, como forma de entrar na melhor idade realizando sonhos. Amante por viagens inesperadas está sempre com uma mochila pronta para encarar desafios. Resolveu compartilhar de sua aventura com os demais por acreditar que nunca é tarde para realizar sonhos.
Revisado por Tarcisio Junior
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