Crônica: Um oceano no meio da gente
6 anos atrás
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Débora, Nara e Juliana namoravam quando decidiram morar fora do Brasil.
– Amor, vou ali estudar na Irlanda e já volto!
O namorado da Débora não gostou muito da ideia. Foram semanas de brigas e discussões, até que ela foi colocada contra a parede.
– Ou eu, ou a Europa.
Ela desembarcou por aqui um mês depois. Preferiu terminar o namoro para evitar mais desgastes emocionais.
O namorado da Nara aprovou a ideia. Embora amasse muito a menina, não quis se colocar entre ela e o grande sonho de sua vida.
– Mas e a gente?
Decidiram ficar juntos, mas substituíram o “namoro” por um “relacionamento aberto”. “Assim doi menos”, diziam eles.
O namorado da Juliana levou um choque. Estavam juntos havia seis anos e já planejavam casamento. A dúvida corroía a cabeça do garoto:
– Jogar tudo fora ou aguardar mais um ano?
Ele decidiu esperar e até levou-a ao aeroporto no mês seguinte.
Débora, Nara e Juliana se conheceram na sala de aula da escola de inglês. Tomaram juntas a primeira pint de Guinness no Temple Bar. Tornaram-se grandes amigas e, principalmente, parceiras de baladas.
Débora resolveu curtir tudo o que a Europa lhe oferecia. Tudo MESMO! Já na primeira semana, se envolveu com um espanhol da escola. Coerente no discurso, pulou fora quando percebeu que o menino estava se apegando. Virou figurinha carimbada nos clubs mais tradicionais de Dublin, onde colecionou inúmeros pretendentes. Beijou muito, especialmente europeus, mas o único que a levou para a cama era brasileiro.
Nara demorou um tempo até se acostumar com o novo status do relacionamento. Até então ainda não havia entendido o significado de “aberto”. Resistiu às primeiras tentações. Disse “não” a irlandeses, italianos, espanhóis, ingleses, portugueses e a homens de outras incontáveis nacionalidades. O processo de enfraquecimento da carne levou exato um mês. Foi quando ela finalmente beijou alguém em solo europeu. E esse alguém era brasileiro, colega de classe.
Juliana tinha uma resposta padrão para todos os caras: estava na balada apenas para dançar. Desconfiados, eles sempre insistiam, mas nunca conseguiam aquilo que queriam. Pobres moços incapazes de entender a alma feminina. Certa vez, ela teve que mostrar a sola do sapato novo que havia comprado na Penneys duas semanas antes como prova de seu amor pela dança. De fato, a menina não parava de se contorcer nem para pegar a cerveja no bar. Juliana não tinha olhos para nenhum macho, exceto para o seu namorado que a esperava no Brasil.
Débora chorou quando o ex ignorou sua mensagem de feliz aniversário no Facebook. Ela escreveu um texto lindo e postou na timeline do menino. Falava em amor eterno, saudades e “o que é para ser, será”. Em sua cabeça, os dois voltariam a ficar juntos assim que ela desembarcasse no Brasil. Aquele fatídico dia mostrava que, talvez, o seu plano não se concretizaria. Triste, saiu para beber com as duas amigas. Beijou um gringo naquela noite, xará do aniversariante.
Nara só precisava de um empurrãozinho para seguir os mesmos passos de Débora. Depois do brasileiro, colega de classe, ela emendou uma sequência que deixou todas as amigas com inveja: um sueco de olhos azuis, um italiano de dois metros de altura e um francês que trabalhava como modelo. Nara finalmente entendeu o significado de “relacionamento aberto”. Uma noite, ela acordou com o celular apitando. Respondeu às mensagens do namorado e voltou a dormir no peito do espanhol que repousava ao seu lado.
Juliana começou a perceber que havia muito mais coisa para fazer nas baladas do que dançar. Diferentemente de antes, quando ela nem olhava na cara dos pretendentes antes de dar o fora, agora ela analisava o sujeito da cabeça aos pés. E pior: se arrependia de muitas das respostas negativas. Tentada a conhecer novos sabores, ela não teve dúvidas. Ligou para o Brasil e terminou o namoro. Em duas semanas, tirou todo o atraso dos últimos cinco meses. Ela nunca mais saiu de balada apenas para dançar.
Débora recebeu centenas de mensagens em seu aniversário. Uma delas a fez pular de alegria. As palavras de amor do ex-namorado quebraram o gelo e os dois passaram a conversar todos os dias. Sim, TODOS OS DIAS. Os homens de outrora já não serviam mais. Ela queria apenas um. E ele estava a milhares de quilômetros dali. Voltar ou não voltar, eis a questão. A pergunta martelou a cabeça de Débora por dias, até que o menino desembarcou em Dublin para pedi-la em namoro novamente. Agora, os dois moram juntos. E estudam na mesma escola de inglês.
Nara voltou ao Brasil. Foi recepcionada com flores no aeroporto. Eles fizeram um pacto: jamais conversariam sobre o que havia acontecido no último ano. Ela não tinha interesse nas aventuras do cara em baladas tupiniquins, assim como ele ignorava qualquer história de intercâmbio que envolvia as palavras “balada”, “festa” e “St. Patrick’s day”. Três meses depois, foi a vez do menino avisá-la que gostaria de morar no exterior. Ela o apoiou. Em vez de fechar, decidiram manter aberto o relacionamento. Felizes. Muito felizes.
Juliana acordou numa sexta-feira com a maior ressaca da vida. Passara as últimas horas ajoelhada em frente ao vaso sanitário. O fígado gritou, o coração ouviu. Jogou água gelada na cara, pegou o computador, ligou o Skype e chamou o ex-namorado. Uma hora depois, ela remarcou a passagem para o Brasil. O casamento será daqui a seis meses.
Débora, Nara e Juliana nunca mais se encontraram. Cada uma seguiu um caminho com o seu próprio homem. Os mesmos homens de antes. Os homens de suas vidas.
Como diria uma delas, o que o Brasil uniu, o Oceano Atlântico não pode separar.
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