Se alguém me dissesse há um ou dois anos, que hoje eu estaria sentada num bar para beber uma cerveja com pessoas de Taiwan, Coreia do Sul, Japão, Itália, Espanha, Turquia e tantos outros lugares do mundo, a probabilidade de eu acreditar nisso seria zero.
Que eu ensinaria um turco a sambar, que comeria uma picanha feita por um japonês, que aprenderia palavrões em taiwanês, que ensinaria palavras em português pra um coreano, que aprenderia a falar o nome de umas das minhas cervejas favoritas italianas com uma italiana, que apresentaria a MPB pra irlandeses, que trocaria dicas de filmes com uma espanhola ou que eu viveria com uma família da Mongólia, eu com certeza diria que essa pessoa tinha batido a cabeça no meio-fio.
Se alguém me falasse que um dia trabalharia de babá, que limparia um bar e que as pessoas teriam muito orgulho de mim por isso, eu com certeza ficaria sem reação e jamais acreditaria ou conseguiria me visualizar nessa situação.
Eu tinha um emprego bom, tinha uma estabilidade ótima, conforto de uma casa grande, com família inteira por perto. Minha sobrinha tinha acabado de nascer e eu, tia coruja, não queria perder um segundo dela.
Quando a gente começa essa jornada, a ficha só cai realmente quando você está dentro do avião, vindo pra cá – ou, às vezes, só mesmo depois um tempo aqui. Mas uma das piores partes é quando você também se dá conta de que a vida também continua no Brasil: assim como tudo está mudando com você aqui, tudo muda lá. Quando você voltar, ninguém será mais o mesmo.
Os primeiros sinais dessa mudança são os amigos que você falava todos os dias. A frequência diminui num nível monstruoso. Às vezes seria legal receber notícias ou um “como vai você”, uma ligação… É, meus amigos… É! A vida aqui pode ser bem solitária. E provavelmente vocês nem imaginam como é estar aqui, limpando as privadas, às vezes até chorando de saudades de vocês…
E preciso confessar que eu já fui essa amiga que não mantinha contato com quem estava fora. Hoje vejo o quão falha fui com essas pessoas que já passaram por essa experiência.
Mas, por sorte, a intensidade das coisas aqui é tão absurda, que os amigos que fazemos geralmente se tornam como aqueles primos ou até mesmo irmãos, sempre dispostos a nos ajudar. E isso é maravilhoso.
Claro, não é todo mundo que tem a sorte de encontrar pessoas assim de cara. E a maioria das pessoas aqui nem imagina a metade da bagagem que você traz consigo – e nem você a deles.
Estar aqui é (re)descobrir seus melhores amigos e fãs na sua família. É entender direitinho o que significa aquela frase clichê que “saudade quando não cabe no peito, transborda e vira lágrima”. É ter dias com vontade de sair correndo de volta pro Brasil e ter dias que você pula sozinha pelas ruas e quer ficar aqui pra sempre. É uma mistura de nostalgia, saudade, alegria. É descobrir quem você realmente é, quem são as pessoas que você tem “por perto” (mesmo que o perto, seja a quilômetros de distância). É descobrir que você pode, você pode muito!
Então, pare um pouquinho e imegine você, sozinho, num continente, país, estado, cidade, bairro diferente. Língua diferente. Pessoas diferentes. Cultura diferente. Sozinho – e nem sempre essa solidão significa liberdade, viu?! Eu ainda acredito que nessa vida a gente só vai “trocando as gaiolas” para aquela que a gente mais se adapta… Pense em tudo isso!
Depois disso manda um oi, tá?
Um beijo.
Sobre a autora:
Imagens via Dreamstime
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