Não é a primeira vez que a Juliana Spinardi, de 24 anos, natural de Ponta Grossa, Paraná, divide suas histórias com a gente. Formada em jornalismo, boêmia e apaixonada pelo seu time do coração, o Operário Ferroviário Esporte Clube, ela muito sonhou em morar na Índia, ver os elefantes e tomar uma cerveja gelada em Bali. Seu lema é “Viver para viajar e viajar para viver”, prova disso é que vivendo na Irlanda descobriu uma maneira simples de se aventurar pelo deserto. Ficou curioso? Então dê uma espiadinha nessa nova aventura!
Por Juliana Spinardi
Colaboração: Fabiano de Araújo
A minha primeira viagem, logo que cheguei a Dublin, foi para um lugar que eu nunca tinha pensado em visitar. Quer dizer, eu sonhava em visitar a África, a Ásia e seus lugares exóticos, porém minha ‘Bucket List’ tinha nomes como Índia, Tailândia… mas não o Marrocos! E veja só, o Marrocos se tornou a viagem mais incrível da minha vida.
Assim que cheguei à Ilha Esmeralda, eu tinha como objetivo aprimorar o inglês e viajar pela Europa. Mas quando surgiu a oportunidade de conhecer Marrakesh e o Deserto do Saara, só conseguia pensar: “Why not?”.
Fazia um domingo chuvoso em Dublin, clima básico da cidade, quando eu parti para a primeira de muitas aventuras que viriam naquela semana. Mochilão nas costas e muita expectativa, foram pouco mais de três horas em meu primeiro voo em uma companhia low cost. Chegando à Marrakesh, já presenciei um pôr do sol lindo de morrer, saí do avião e não estava acreditando: eu estava sentindo calor, estava suando! Quem mora na Irlanda sabe como sentir calor é raro.
Na imigração foi tranquilo – um pouco desorganizado, para falar a verdade, mas deu tudo certo. Eu fiz essa viagem com um grupo grande de pessoas. Afinal, para ir até o Marrocos é indicado (super indicado, aliás) pegar um guia e um intérprete. Lá não adianta falar inglês. As placas em árabe já indicavam que eu não tinha ideia para onde estava indo, mas estava adorando tudo aquilo.
Pegamos o transporte até o hostel, porém o carro não nos deixou na porta. Paramos perto do lugar de hospedagem, já que não seria possível entrar na Djemaa El-Fna, a praça principal de Marrakesh, onde tudo (absolutamente tudo) acontece. Antes de chegar até a praça onde estava nosso hostel, deveríamos cruzar uma espécie de calçadão. E ali já começou a aventura. Eu jamais me esquecerei de observar aquela cidade pulsando, luzes em toda parte, kebabs para todo lado, mulheres cobertas dos pés à cabeça… Era difícil coordenar meus olhos entre tantas novidades e atentar ao guia, que ia fazendo um caminho confuso por meio das ruelas. Eu só tinha certeza de uma coisa: eu não podia me perder!
Era aproximadamente 9 horas da noite e algumas pessoas já estavam se preparando para ir deitar, já que deixaríamos a cidade na manhã seguinte, rumo ao deserto. Mas eu jamais conseguiria dormir com tanta coisa acontecendo ao meu redor. Foi então que fiz amizade com uma galera que estava na mesma ‘vibe’ e nos aventuramos na praça principal.
A Djemaa El-Fna é ponto de encontro de vendedores de todos os tipos de produtos, roupas, luminárias e de mulheres que quase te arrancam o braço ao tentar te convencer a fazer uma tatuagem de hena. É o lugar onde os homens adestram macacos, encantam serpentes venenosas e por aí vai. Coisa de filme! Foi o lugar mais sensacional que já vi. Resolvemos comer um tagine (prato típico com carne de cordeiro ou frango e legumes). Escolhemos um restaurante com um bom terraço para observar toda aquela bagunça de cima. Tudo regado a muita música tribal.
Gastei bastante por lá. Como estava trocando euros por dihans, a moeda local, muito desvalorizada, era super barato comprar pashmina, temperos, luminárias e produtos que até hoje não sei o que são. Afinal, lá dá para pechinchar muito e conseguir ótimos preços. Mas uma dica: cuidado com os vendedores. Fez contato visual com eles ou cobiçou alguma peça, você está ferrado. O vendedor vai ficar horas querendo negociar contigo. É engraçado, mas às vezes um pouco irritante porque eu sou a rainha do “só estou dando uma olhadinha”, mas com eles não tem disso.
Eu achava que o deserto era perto de Marrakesh, mas para se chegar ao deserto do Saara você precisa viajar muito. Quando digo ‘muito’ é MUITO mesmo. Em torno de 12 horas. E junte 12 horas de viagem (com pausas em outras cidades, pausa em hotéis) com um motorista louco, alta velocidade e precipícios enormes.
Muitas aventuras, mas eu não estava satisfeita, claro que não. E não é que fui arrumar briga com uns policiais marroquinos no meio do nada?!! Exatamente isso. Foi assim, estávamos nas estradas desertas do Marrocos quando uma espécie de blitz parou a gente. O motorista da van parecia nervoso. Ele desceu com alguns papeis. O guarda olhava, conversava com o outro, falava no rádio. E nada de liberar a gente. E eu ali, de olho. Eu sou jornalista, eu sou curiosa e perco o amigo, mas não o furo de reportagem. Lógico que quando o motorista da van passou alguma coisa para o policial, eu tirei uma foto.
Foi então que um dos policiais saiu correndo, abriu a porta da van e começou a gritar em árabe apontando pra mim. Anos de jornalismo me diziam para eu apagar a foto. E o fiz. Em uma velocidade recorde. O problema era que: é proibido tirar fotos dos policiais no Marrocos. Há vários casos de pessoas que tiraram fotos suspeitas de policiais que recebiam propina.
Os dois policiais estavam loucos gritando comigo em árabe e eu gritando em inglês com eles, jurando até a morte que não tinha tirado foto nenhuma. Eu acho que pela primeira vez, na vida daquele policial, uma mulher o enfrentou. Desci da van com sangue no olho, coisas normais que todo jornalista já passou. Mas não no Marrocos, sendo mulher. Ele quis tirar a câmera da minha mão, pense numa pessoa rodando a baiana no deserto. No final, o nosso guia veio e explicou tudo e seguimos viagem.
Enfim, após uma tretinha básica para descontrair, estávamos no Saara. Chegamos até um hotel, onde deixamos nossas malas, e saímos apenas com as coisas mais básicas que precisaríamos para passar uma noite no deserto.
Levou pouco mais de uma hora em cima de um camelo até chegar às tendas dos berberes (tribo que vive no meio do deserto). Lá fomos recebidos com festa, batuque e um jantar incrível. As tendas eram feitas de tapete, as paredes de tapete, o chão de tapete… Sem palavras para descrever quão especial é aquele lugar. Conversar com os berberes foi demais, cada história surpreendente. Se eu dormi? Não mesmo! Puxei meu colchão para fora da tenda e fiquei contemplando o céu estrelado mais lindo da minha vida.
Mesmo depois de conhecer vários lugares da Europa, cidades maravilhosas, eu ainda afirmo: nada superou o Marrocos. Eu não superei o Marrocos ainda. Sabe por que? Marrocos é um grito. Incomoda, enche os olhos de informação, de cores, de odores. É uma ferida viva que queima ao sol de 40º. Por isso o Marrocos é tão fantástico. Desde quando se pisa em terras marroquinas, tudo começa a mudar. Não só a maneira como você se comporta, já que o país é muçulmano, mas sua concepção sobre a vida também entra em mutação. Tudo é um choque cultural. Atravessar o deserto em um camelo, dormir nas tendas dos berberes ou ver o pôr e o nascer do sol no Saara são coisas que eu jamais esquecerei na minha vida.
A série Meu Intercâmbio conta com a colaboração do repórter Fabiano de Araújo e tem o objetivo de dar oportunidade a estudantes que estão vivendo a experiência de intercâmbio na Irlanda, de contar suas histórias, alegrias e perrengues como intercambistas. Se você também quer compartilhar como tem sido a sua nova vida desse lado do globo, basta entrar em contato com: jornalismo@edublin.com.br
Revisado por Tarcísio Junior
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