Uma lição de vida chamada Aline Nogueira Barros
14 anos atrás
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“Eu não estou brava, apenas triste. A minha vida mudou. É uma vida ruim, diferente, mas eu continuo tentando ser positiva.” Aline Barros
Talvez Aline nem se lembre dessas palavras ditas há quase dois anos, em uma entrevista ao jornal Herald. Afinal, foram muitas as entrevistas, desde 22 de julho de 2008, quando nas proximidades da Christ Church, em Dublin, um motorista veio a causar o acidente que tirou da estudante brasileira, a possibilidade de andar.
O mais surpreendente é que quase três anos após o acidente e com desafios cada vez maiores na busca pelo movimento de suas pernas, Aline continua tão positiva quanto quando recebeu dos médicos a informação de que sua paralisia era definitiva.
Nas longas horas da nossa entrevista, o que presenciei foi uma menina cheia de vida, consciente e surpreendetemente forte. E mesmo no momento em que um crise de dores veio silenciar por alguns momentos o nosso bate papo, ela numa fortaleza de dar inveja, disse que as dores são apenas mais um obstáculo na buscar para a sua recuperação.
Para quem já conhece a história da Aline Nogueira Barros, e já leu sobre os muitos capítulos dessa fatalidade, sabe também o quanto a Aline nos ensina todos os dias.
Quando o acidente acorreu, Aline estava há apenas uma semana de voltar ao Brasil para visitar a sua familia e realizar o sonho de sua mãe, conhecer Paris. Nem ela, nem D. Sylvia poderia imaginar que aquela semana pré viagem iria transformar a vida das duas.
O acidente
“Eu lembro de tudo naquele dia, sai de casa mais cedo, estava pedalando sem correria e há poucos instantes antes do acidente eu estava agradecendo a Deus por tudo.”
Aline, como alguns outros estudantes brasileiros, trabalhava entregando jornais no centro de Dublin. Naquela manhã, no caminho de casa para o trabalho, pouco depois das 6h30 , um caminhão veio por mudar completamente a vida da jovem estudante que estava há um ano na Irlanda tendando aprender inglês e trabalhando para ajudar sua família em Varginha, Minas Gerais.
Para muitos, um acidente nessas proporções poderia significar o fim, uma vida sem esperanças, e triste. No entanto, Aline continua mostrando que apesar de sua vida ter mudado drasticamente, a sua vontade de viver, de mostrar para os médicos que ao contrário do que eles acreditam, ela voltará a andar, é muito maior que qualquer diagnóstico negativo. Uma verdadeira lição de vida.
Aline diz não ter raiva do motorista, e mesmo quando teve a chance de estar frente a frente com ele durante uma audiência na justiça, não conseguiu dizer nada. “Como o próprio nome diz, acidente, acredito que não tenha sido de propósito, o erro dele foi passar por cima de mim e não ter me dado socorro”.
Desafios
Aline teve três fraturas na coluna, o que lhe deixou na cadeira de rodas e sem nenhum movimento da cintura para baixo (paraplégica). Além de não poder andar, a jovem que acaba de completar 29 anos, sofre de dores crônicas nos nervos. Dores essas permanentes e que não lhe permitem ter uma vida social.
Durante a noite, o pior momento das crises, Aline é obrigada a permanecer na cadeira, já que, as dores severas são muito mais intensas quando ela se deita. Perguntei a ela o que alivia essa dor. “Nada, nada alivia a minha dor. Os médicos dizem que essas dores vão piorar até chegar ao ponto de me matar”.
Companheira inseparável, D. Sylvia, sua mãe, passa todas as noites ao lado da filha, no sentido de confortá-la, já que, nem as doses de morfina diárias, são capazes de amenizar o sofrimento da jovem. “Da desespero vê-la sofrendo desse jeito e saber que não se pode fazer nada”, confessou Sylvia.
Atualmente Aline tem feito longas aulas de fisioterapia todos os dias. Mas o tratamento depende sempre de como foi a sua noite anterior e da intensidade das dores.
Mas as dores e a buscar para ter os movimentos de volta são apenas alguns dos muitos desafios dessa mineirinha. Apenas com o visto de estudante, e sem a possibilidade de andar Aline não tem como se manter, pagar aluguel, medicamentos e atender necessidades básicas para ela e sua mãe.
Desde o acidente as ajudas, principalmente da comunidade brasileira é o que tem ajudado no seu dia a dia. Do governo irlandês Aline conseguiu alguns aparelhos que lhe permitem acessibilidade e fazer a fisioterapia em casa, mas na condição de estudante, não pode gozar de nenhum benefício governamental, o que lhe permitiria viver sem a necessidade das doação.
Nesses três anos, Aline tem aprendido a viver com as limitações impostas pela sua condição de cadeirante. Na justiça, teve que travar uma briga ferrenha para manter sua mãe na Irlanda. E mais uma vez, a solidariedade das pessoas, da mídia e também de alguns irlandeses, a fizeram conseguir autorização para manter D Sylvia ao seu lado, durante o tempo de espera da resolução do processo.
Hoje, as maiores dificuldades da Aline é de sobrevivência. Muitos dos brasileiros que a ajudaram nos primeiros meses pós acidente já voltaram ao Brasil. A jovem também confeccionava latinhas para deixar em lojas da cidade na busca por doacão, porém, com a intensificação da fisioterapia, ela já não tem conseguido sair para distribuí-las.
A única ajuda que a jovem continua recebendo é a do médico John Clement, que se tornou um verdadeiro pai desde que soube da situação da jovem. Festas esporádicas organizadas por brasileiros também a ajudam com as necessidades do dia a dia.
O processo judicial que exige o pagamento de uma idenização por parte da seguradora da empresa responsável pelo caminhão, deve demorar pelo menos mais três anos, e até lá, Aline precisa continuar na Irlanda para passar por todas as perícias, necessárias durante o processo.
Nesta sexta (27/05) o Boteco Brasileiro está organizando o Churrasco Solidário para angariar fundos para a Aline, não deixe de participar!
Para doações:
Aline Nogueira de Barros
AIB – Account 07636182
Sort code: 93-32-95
“Eu sei que voltarei andar. Nos meus sonhos, nunca estou na cadeira de rodas, eu não me vejo assim para o resto da vida”.
Aline Nogueira Barros
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