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Uma viagem pelo mundo subterrâneo de Nápoles

Por Felipe Franco, especial para o E-Dublin

De canal de fluxo das águas à passagem para os napolitanos que se protegiam da guerra. Arquivo pessoal

Lá em cima, motonetas conduzem a sinfonia frenética ao longo das estreitas vielas napolitanas. Nas sacadas de prédios antigos, senhoras italianas estendem roupas em varais que atravessam a rua, dando um ar de festa junina com lençóis ao invés de bandeirinhas. Enquanto nas padarias, tiozinhos discutem em voz alta entre um gole e outro de cappuccino. Diferente lá de cima, aqui embaixo o silêncio toma conta.

Uma rede de túneis, aberta a 40 metros de profundidade, revela um mundo subterrâneo cheio de mistérios.  Ao longo do tempo, erupções vulcânicas, deslizamentos de terra e terremotos criaram um solo propicio para o trabalho manual. Pelas mãos dos gregos, 2400 anos atrás, a necessidade de levar água à cidade fez com que um sistema avançado de cisternas fosse escavado para resolver o problema.

Como ideia inicial, estes estreitos túneis serviam para abastecer as cisternas. Arquivo pessoal

Após uma decida íngreme por um labirinto de escadas, chegamos a uma enorme caverna onde, segundo o guia, concentrava-se uma das cisternas. Acima de nossas cabeças um fleche de luz revela a última abertura deixada para retirada de água, um poço. Ele explica que o restante dos poços foi fechado durante a segunda guerra mundial. E aí vem mais uma revelação interessante. Este local também serviu para proteger a vida dos napolitanos. Antes disso, no séc. XVIII, uma epidemia de cólera na água fez com que o sistema todo fosse desativado, deixando esta parte de Nápoles esquecida por muito tempo e até servindo de lixeira. Mas com os bombardeios durante a guerra, o lugar foi reativado como abrigo antibombas. Por isso, os poços lá em cima tiveram que ser fechados, evitando que ataques pudessem se feitos através destas aberturas, atingindo a população que aqui embaixo se escondia.

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simulação mostra como bombas poderiam facilmente ser lançadas no abrigo. Arquivo Pessoal

Durante nossa caminhada através dos estreitos túneis que levavam água para as cisternas e depois serviram de passagem para os moradores, foi possível imaginar a vida sufocante que tiveram durante a guerra. Em um dos apertados túneis, carregamos velas para iluminar as geladas e escuras vielas dando uma sensação de aprisionamento. Sem escolha, a população tentava levar uma vida normal, o que pode ser constatado com a presença de uma área de lazer para as crianças.

Local que servia para a distração das crianças em um local angustiante, úmido e sem luz solar. Arquivo Pessoal

Mas ainda tem mais. Para fechar o tour pelo subterrâneo da cidade, uma descoberta incrível. O que antes se tratava apenas de uma casa italiana, agora revela um pedaço de grande importância para a história. O lugar, que servia de porão para vinhos, guardou por séculos um pequeno pedaço do teatro romano, que serviu para apresentações do Imperador Nero há cerca de 2000 anos. Infelizmente, só é possível ter acesso a uma parte do corredor que ficava atrás do palco. O guia revela que as escavações não podem prosseguir devido ao enorme número de prédios existentes sobre o teatro e que a remoção de um simples tijolo poderia colocar tudo abaixo.

O porão usado para vinhos, que revelou parte do teatro romano. Arquivo pessoal

Parte do corredor, atrás do teatro. Arquivo pessoal

Sem dúvida, Nápoles guarda muitas riquezas arqueológicas. Assim como o teatro de Nero, outras maravilhosas construções da antiguidade devem estar aguardando para serem trazidas à luz. Depois da viagem subterrânea, voltei para o mundo moderno aqui de cima com um olhar mais atento e na primeira pizzaria que entrei foi impossível não se perguntar: Será que já checaram se não há algum tesouro atrás destas paredes?

Sobre o autor:
Felipe Franco, 31, é gaúcho, jornalista e metido a pensador. Após 2 anos de Irlanda, fez a mochila e partiu para a estrada com a missão de descobrir mais sobre si e a utilidade que tem para o mundo. Europa, Oriente Médio e Ásia estão na lista para 2016. Viver o ano na estrada levando do jeito que dá é seu maior projeto. Histórias desta aventura podem ser conferidas no blog Crônicas da Estrada.

Colaborador edublin

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