Pedro e Alan, dois amigos brasileiros, conversavam em um pub qualquer, num dia nublado. Um deles comentava sobre a necessidade de salvar dinheiro para viajar. Falaram sobre o preço das passagens, lugares incríveis que queriam visitar e quanto tempo teriam para a aventura. O papo mudou para o trabalho deles, um era cleaner e o outro funcionário de uma empresa de call center. Falaram da vida, dos amigos e de como era complicado sair com uma irish. Entre algumas pints de boa cerveja, realizaram que o tempo tinha passado. Era hora de voltar para casa. “Let’s go home”. Caminharam em direção a bus station: “See you soon, my friend!”
Se você achou esse parágrafo perfeitamente normal, você provavelmente já morou ou está morando num país de língua inglesa. Nós, moradores do mundo, temos um idioma próprio, formado por uma mistura de português com palavras inglesas. Acrescente a isso algumas expressões e termos diretamente traduzidos do idioma anglo-saxão para a língua de Camões. Este idioma poderia ser chamado de “portunglês” e é aprendido logo nas primeiras semanas em terras estrangeiras.
Antes de se dominar o inglês, o portunglês já nos dominou. Como acontece com o aprendizado de línguas, quanto mais tempo de prática, melhor ficamos. Depois de seis meses em terras frias e com pouco sol, algumas palavras brazucas começam a desaparecer. Mas, isso não é problema em conversas com amigos tupiniquins nestas terras, pois eles também dominam o portunglês. Problema mesmo é quando fazemos um Skype com nossa família ou voltamos para o Brasil.
Almoço de domingo em Belo Horizonte, toda a galera se junta para dizer oi para o Pedro que está do outro lado do mundo. Pedro quer dizer coisas bonitas para toda essa gente querida que não vê há tanto tempo. Mas só consegue pensar nas cantadas em inglês que treinou para tentar investir nas irishs, em algum pub cool da cidade. Pedro então sorri para a família e diz que tem saudades de todo o pessoal! É que tem palavra que não se esquece e nem tem como substituir.
Pedro também tem saudades daquele seu amigo, o Alan. Ele voltou para o Brasil há uma semana. Sofreu de jet leg, mas já se recuperou. Porém, ainda não entende porque sua mãe insiste em corrigi-lo quando ele fala sobre quanto dinheiro “salvou”. Também não aguenta mais seus primos dizendo que ele ficou metido, pois agora só fala inglês o tempo todo. É que eles não dominam o tal do portunglês.
Muitos irão até dizer que portunglês não existe. O programa de edição de texto que estou usando me avisa o tempo todo que a palavra é português. Sabe de nada, inocente! Alguns irão dizer que isso é invenção, sonho ou imaginação, como os leprechauns. Afinal, quem ainda não viu um duende irlandês é só porque nunca morou em uma ilha verde, não é mesmo?
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