Morar em outro país também significa estar atento às leis e normas de conduta da cultura local. A Irlanda é um país historicamente conservador, com qualidade de vida acima da média e onde as coisas, no geral, costumam funcionar — isso inclui haver um baixo nível de corrupção.
Segundo dados do Índice de Percepção de Corrupção (IPC), da organização não governamental Transparência Internacional (2016), a Irlanda pontua no top 20 dos países menos corruptos do mundo. Já o nosso Brasil varonil aparece na 79º posição, na lista de 176 países — o que não é de se estranhar, principalmente no atual cenário político e moral que estamos atravessando.
Ao contrário do Brasil, questões como fiscalização e respeito às normas são levadas muito a sério na Ilha Esmeralda, e malandragens, vistas como banais no Brasil, aqui podem ser levadas para outras esferas, incluindo prisão e deportação.
Como a comunidade brasileira não para de crescer por aqui, neste texto, vamos citar alguns comportamentos que já aparecem visivelmente entre nossos conterrâneos em solo esverdeado.
Uma das situações mais corriqueiras no Brasil é não pagar pelo serviço de TV a cabo e fazer o conhecido “gato” para ter acesso aos canais. Na Irlanda, além de pagar pela TV a cabo, você também tem de arcar com uma licença de uso do seu aparelho (160 euros por ano). Se o fiscal aparecer e a taxa não estiver paga, a multa pode chegar a 2000 euros.
Outra ocorrência comum é a tentativa de infringir as leis de trânsito, e isso também ocorre entre os brasileiros na Irlanda. O hábito de recorrer a um amigo que trabalhe no Detran não vai funcionar por aqui.
Além de multas altas, você corre o risco de perder o direito de dirigir. Sabe aquela história de passar os pontos para a carteira da sua bisavó que não dirige há duas décadas? Esqueça!
Vale lembrar que a nossa carta de habilitação no Brasil vale por um ano aqui na Irlanda. Para quem pretende dirigir após esse período, deve tirar a habilitação irlandesa.
E falando em conduzir por aqui, o “Learner Driving Permit”, equivalente à nossa permissão provisória para dirigir no Brasil, permite que você dirija, mas deve haver sempre uma pessoa com habilitação definitiva dentro do carro, além do adesivo com o L (Learner) estar sempre visível no veículo.
Burlar essa regra, não expondo o L ou dirigindo sem a segunda pessoa, custará uma multa de 80 euros, além da possibilidade de perder 2 pontos na carteira.
Desde 2014, os condutores recém-qualificados precisam exibir a placa N (Novice) — para novatos — também por dois anos após o L. Assim, com essas medidas, se forem acumulados seis pontos de penalização, os motoristas N serão punidos por seis meses.
A penalização para as infrações e aplicação dos pontos é mais rígida com os novatos. Se você descumprir o “novo” sistema, terá dois pontos acumulados na licença e uma multa de até € 1.000.
No período em que novas regras para estudantes estrangeiros foram lançadas e o valor financeiro de 3000 euros foi inserido, não foram raras as perguntas do tipo: E se eu pegar um dinheiro emprestado com meu tio, meu pai ou a vizinha da esquina, só para apresentar na imigração? Vou ter problema?
A exigência dos 3 mil euros para estudantes na Irlanda não é só uma simples regra. Ela está ligada a uma conta prática que visa proteger o próprio estudante.
Esse valor seria o montante mínimo para manter um estudante no país por 6 meses, caso ele não consiga outro aporte financeiro durante o intercâmbio, como um trabalho de meio período.
Outra tentação pra muita gente aqui (e isso também inclui os irlandeses) é a de não pagar passagem no transporte público, principalmente no Luas. O fato também se repete em outros países da Europa.
Como citado, a fiscalização aqui funciona. Numa dessas, além do constrangimento, a multa pode ser bem salgada. Em Dublin, ela custa 45 euros para o Luas. No caso de o espertinho tentar burlar a distância percorrida para pagar menos no ônibus, poderá ser multado em até 100 euros.
Todo mundo sabe que a vida de estudante com apenas 20h de permissão de trabalho não é fácil, principalmente na Irlanda, por não ser um país barato. Mas essa é uma regra que sempre existiu.
Chegar aqui e dar o truque básico de trabalhar mais horas, deixar de ir às aulas e pagar um dinheirinho pela attendance foi justamente o que culminou em regras mais duras aos intercambistas. Ou você acha que o governo decidiu limitar as 40h só em períodos específicos do ano por acaso?
Como muito bem citado pelo historiador brasileiro Leandro Karnal, o brasileiro tem o hábito de criticar o governo, as grandes mazelas em nosso país, mas quase sempre esquece das pequenas corrupções que comete todos os dias.
É preciso lembrar que se em nosso país alguns desses comportamentos passam despercebidos por parecerem banalidades, ao menos no país alheio deveríamos obedecer às regras vigentes e, quem sabe, aprender e levar conosco modos melhores em nossa bagagem.
Imagens via Dreamstime
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