Tenha a durabilidade que tiver, um intercâmbio no exterior faz com que adentremos em um outro mundo.
Acontece que geralmente o intercâmbio tem um prazo, e quando menos se espera, está na hora de retornar ao país de origem, no nosso caso, o Brasil. O retorno não é tão simples como imaginamos.
Talvez a dificuldade não esteja na decisão da volta em si, pois tudo é uma grande euforia, afinal, queremos rever a família, os amigos, curtir o sol e o calor (principalmente para quem retorna da Irlanda), voltar a usar chinelo e bermuda nas ruas.
O “x” da questão é quando nos damos conta de que o intercâmbio, de fato, terminou. É quando cai a ficha de que voltaremos à rotina brasileira.
Algumas semanas já se passaram e você tem que retomar sua vida com os novos/velhos desafios.
Seria chover no molhado se eu dissesse que é difícil se reacostumar com o fato do Brasil estar cercado por violência, corrupção, falta de educação e respeito no trânsito, infraestrutura de terceiro mundo, salários baixíssimos e custo de vida alto e tantas outras coisas mais?
O amigo do E-Dublin já deve ter lido muito sobre esses problemas enfrentados por quem morou um tempo em um país onde ocorre o inverso e que, na volta, entra em choque quando se depara com todos esses problemas. Portanto, vamos deixar isso à margem e focar em um lado que merece muita atenção: a possibilidade de uma depressão pós intercâmbio.
A “síndrome do regresso” é tema tratado por psicólogos, psicoterapeutas, neuropsiquiatras e brasileiros que retornaram de seus intercâmbios realizados em várias partes do mundo. Problemas como adquirir a síndrome do pânico, engordar em excesso, tristeza constante e insônia foram relatados por esses intercambistas durante o processo de readaptação.
Muito disso se deve a todas aquelas situações listadas acima, mas um outro fator pode ajudar muito para que a síndrome do regresso nos incomode. Podemos chamá-lo de emprego. Tendemos a pensar que após uma experiência no exterior tudo será mais fácil quando voltarmos, afinal, voltaremos afiados em uma nova língua, com um conhecimento sobre outra cultura e com viagens a vários países. Voltamos certos de que temos algo mais a agregar.
O problema é que não é bem assim que a banda toca.
Peço licença agora para dizer que estou escrevendo esse texto baseado em minha própria experiência e também na de algumas pessoas conhecidas que retornaram recentemente de um intercâmbio.
Ao chegarmos em nosso país, normalmente, precisamos de um tempinho para que as coisas possam se assentar. Depois, começamos a sentir a necessidade da busca por emprego. Nesse intervalo de tempo, muitos de nós já estamos atravessando a fase da síndrome do regresso, mas precisamos nos mexer, pois o dinheiro não cai do céu e os dias voam.
Uma breve procurada no mercado e vemos que há muitos profissionais buscando uma oportunidade, por mais que a taxa de desemprego não esteja alta como já esteve tempos atrás. Com o aumento de profissionais capacitados no mercado, os salários tendem a diminuir, pois ocupar uma vaga de emprego tem sido fácil para as empresas atualmente.
Mais uma vez acabamos caindo na comparação com o país em que pudemos viver e trabalhar; como eu estive na Irlanda e sei que a maioria dos leitores do E-Dublin está na ilha, sabemos que encontrar um trabalho, mesmo que sendo um subemprego, é algo possível para quem realmente procura. Além disso, sabemos que o salário compensa e nos dá a chance de pagarmos nosso aluguel, nossa compra do mês, algumas viagens pela Europa e ainda sobra um troco para tomar uma Guinness no final de semana. Talvez esse seja o ponto mais incômodo quando voltamos, porque se tudo isso é possível trabalhando menos horas do que costumamos trabalhar em nosso país, sem levar em consideração de que estamos falando de um subemprego, como podemos assumir um cargo de responsabilidade em uma grande empresa, trabalhando no mínimo 8 horas por dia, e aceitar ganhar um salário menor do que aquele que ganhávamos em outro país (principalmente se convertermos a moeda)? E pior: como aceitar o fato de que temos que fazer “mágica” para pagar nossas contas e impostos?
Os dias vão se passando, as coisas parecem não caminhar como o sonhado, e dia após dia você só se lembra de como era boa a vida de cleaner, promoter, kitchen porter, artista de rua, au pair…
Misturado a tudo que foi dito, as fotos de Dublin, Paris, Londres, Roma ou qualquer outro lugar, só dão brecha para que a tristeza nos pegue de jeito. Por mais que não nos tornemos depressivos, às vezes a tristeza é inevitável.
Um casal da minha cidade, no interior paulista, que voltou de um intercâmbio na Irlanda enquanto eu ainda estava na Ilha Esmeralda, não conseguiu se readaptar ao Brasil e retornou a Dublin um mês depois.
Talvez muitos de vocês, amigos do E-Dublin, devem estar se perguntando se realmente é tudo isso, se essa tal de síndrome do regresso, possibilidade de depressão ou tristeza vai acontecer com todos.
Claro que não!
Existem pessoas que não veem a hora de voltar ao Brasil, mas para aqueles que curtem a vida no exterior e têm que retornar um dia, fica a dica: Procurem ler bastante sobre o assunto e se preparem para amenizar a situação.
Eu fiz isso. Voltei “preparado”, mas posso afirmar que nesse pouco mais de um mês que estou no Brasil tenho sentido muita falta da Europa e de suas facilidades.
Ainda não tenho uma perspectiva de trabalho e, na única entrevista que fiz, tive que ouvir do entrevistador que a base salarial era aquela mesmo, que se eu quisesse ganhar mais seria muito difícil minha recolocação no mercado. Daí eu entendi o porquê de algumas pessoas resolverem voltar a viver no exterior e largarem seus canudos em função de um subemprego.
Eu poderia iniciar esse texto com uma frase conhecida dos intercambistas, mas achei melhor encerrá-lo assim.
“A readaptação ao nosso próprio país é mais difícil que a adaptação a um país estranho”.
Quem já passou por isso e puder deixar um testemunho aqui nos comentários será bem interessante.
Para quem vai passar por essa situação, boa sorte, e não deixem a peteca cair, mesmo se a nostalgia bater à porta.
Fotos: Shutterstock
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