Muita gente duvidou, desacreditou, me chamou de louco, me questionou mas mesmo assim eu arrisquei e, quer saber? As coisas não tem sido tão ruins assim.
Ok, aconteceram alguns problemas no decorrer do percurso, mas nada na vida é fácil. Cada desafio deve ser vivido como uma nova experiência. Se aos vinte e poucos eu não pude encarar o intercâmbio, fiz ele com quase quarenta – e o bom disso tudo é que ele não só foi, mas está sendo muito valioso.
Atualmente me sinto mais preparado para enfrentar os desafios e consigo lidar melhor com situações que antes perderia o controle facilmente. Consigo me entregar com mais garra e com menos medo.
É bem verdade que muita gente ainda me vê como como louco – me lembro, por exemplo, de ter escutado antes de partir: “você está abrindo a janela do apartamento e jogando sua vida fora”, pelo fato de eu ter largado um emprego estável e ter partido na direção do inesperado. O que eles nunca entenderam foi o real motivo que me fez encarar essa experiência, que aproveito para esclarecer agora!
Fui tomado por uma vontade louca de viver uma vida completamente diferente, desprovida de luxo e de riqueza, na qual os pontos focais estão em compartilhar sonhos e conhecimento. E daí que essa vontade só chegou agora, perto dos 40? Estou vivo, tenho todo o direito de acertar e errar, e estou aberto a isso! E sabe o que mais? Vocês se supreendereriam! A vida por aqui está bem mais divertida que aquela rotina no Brasil de casa, trabalho, trabalho, casa.
Problemas com moradia, escola, trabalho, cultura, idioma… esses serão constantes na vida de qualquer intercambista, não importa se ele tem 20 ou 40 anos. O que vale nessa hora é a nossa necessidade de vencer, de ir em busca de coisas novas, superar o que tiver de ser superado e seguir em busca dos objetivos.
Os desafios que vivencio aqui são bem diferentes dos que estava acostumado na minha vida profissional do Brasil. E é exatamente o novo, o desconhecido, o ter que me acostumar com o pouco, que tem me feito como pessoa e profissional, muito mais completo, ágil e com uma desenvoltura que nem mesmo sabia que tinha.
Vim para Dublin, estou na Europa, vivo esse momento e estou curtindo cada dia uma sensação diferente, o que tem me proporcionado uma felicidade indescritível. A sensação é de poder voar alto, mas mantendo os pés bem fincados no chão, porque tenho um objetivo traçado e sei onde quero chegar.
Não me arrependo de ter arriscado, a Irlanda me recebeu de braços abertos e a cada parque que conheço, a cada palavra nova aprendida, a cada monumento que vejo, a cada esquina que dobro, é um mundo novo que eu vou descobrindo como se estivesse folheando as páginas de um livro novo, onde eu sou o personagem principal.
A verdade é que, no fundo, nós sabemos bem quem nos apoia, mas devemos estar preparados para enfrentar a “ala do contra”, que geralmente pode ser constituída de pessoas próximas e que jamais passariam pela nossa cabeça.
Eu voltarei para casa, sei que terá o momento certo para isso, mas por enquanto quero absorver todo o conhecimento possível. Quero voltar com a mala cheia de novidades, cheia de coisas para compartilhar, mais experiente e mais confiante.
Aos familiares e amigos que torcem por mim, obrigado! Suas energias positivas estão me ajudando a continuar nessa caminhada. Aqueles que me veem com olhos virados, desculpe, eu estou aqui!
E aos que duvidaram, e que até hoje torcem para que dê tudo errado e que eu tenha de voltar antes do prazo, lamento, pois isso não vai acontecer, afinal de contas eu consegui, mesmo com 40 anos.
Esse texto faz parte da série Dublin para Maiores, assinado pelo nosso colunista Fabiano de Araújo e conta a perspectiva daqueles que decidem fazer intercâmbio na maturidade.
Fabiano de Araújo é gaúcho de carteirinha, mas catarinense de coração. Formado em Comércio Exterior, trabalhou 10 anos com exportação. Um belo dia resolveu largar tudo e encarar um intercambio próximo dos 40 anos, como forma de entrar na melhor idade realizando sonhos. Amante por viagens inesperadas está sempre com uma mochila pronta para encarar desafios. Resolveu compartilhar de sua aventura com os demais por acreditar que nunca é tarde para realizar sonhos.
Revisado por Tarcisio Junior
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